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Reunião científica nos EUA pede maior defesa do ambiente global
MARCELO LEITE
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON
No mesmo dia em que o presidente George W. Bush reiterou
sua fé na tecnologia e no capital
americanos para combater a mudança climática, o presidente da
maior organização de cientistas
dos Estados Unidos disse que é
preciso mais: responsabilidade
internacional.
O mau augúrio foi lançado em
Boston, na abertura da Reunião
Anual da AAAS (Associação
Americana para o Avanço da
Ciência, na abreviação em inglês),
por Peter Raven, pesquisador do
Jardim Botânico de Missouri. O
título de seu discurso inaugural
pareceu escolhido a dedo para
contrapor-se à fala de Bush:
"Ciência, Sustentabilidade e o Futuro Humano".
Mesmo sem falar do Protocolo
de Kyoto, Raven colocou-se do lado dos que exigem maior envolvimento dos EUA em questões globais, como a mudança climática.
Enquanto Bush diz que rejeita
Kyoto porque seu cumprimento
afetaria violentamente a economia nacional e tiraria empregos
de milhões de americanos, o presidente da AAAS defende que seu
país assuma a responsabilidade
por controlar 25% da renda mundial e gerar 25% a 30% da poluição do planeta, embora tenha
apenas 4,5% da população.
"É digno de nota que os Estados
Unidos, a nação mais rica que já
existiu na face da Terra, sejam o
menor doador de ajuda internacional ao desenvolvimento, em
termos per capita, entre os países
desenvolvidos", afirmou Raven.
Referindo-se também ao terrorismo e não só a questões ambientais, disse mais adiante no discurso: "Se os Estados Unidos puderem tornar-se mais internacionais, se nós todos pudermos
aprender para tomar as condições
do mundo tal como elas realmente são (...), poderemos começar a
pensar sobre os contornos do tipo
de mundo que queremos construir para o futuro".
Crítica aos céticos
A referência às condições reais
do mundo tinha endereço certo
-os chamados "céticos" de desastres ambientais como a mudança climática global e a destruição da biodiversidade. Esses críticos das previsões muitas vezes catastróficas de ambientalistas têm
sido úteis para adeptos da desregulamentação, como Bush. A
mensagem desses cérebros de resultados é uma só: não se deve
prejudicar a economia por causa
de previsões ainda incertas.
O ideólogo da hora é Bjorn
Lomborg, que lançou no ano passado um livro provocador, "O
Ambientalista Cético". Raven se
refere a ele e seus companheiros
de jornada como "falsos profetas
e charlatães", além de "pseudocientistas".
Leia: "É desagradável, mas não
surpreendente, que se levantem
falsos profetas e charlatães para,
negligenciando o contexto científico que deve embasar todas as
decisões sábias, pretender anunciar "boas novas" sobre o ambiente
-eles basicamente fazem fama
dizendo às pessoas aquilo que elas
querem ouvir".
A reunião da AAAS, que prossegue até terça-feira, é o mais popular evento de ciência do país. São
esperados 5.000 participantes e
mais de mil jornalistas para seis
dias de conferências e simpósios
com as estrelas do país que mais
produz pesquisa no mundo. O tema geral do congresso é "Ciência
num Mundo Interconectado". Os
grandes destaques da conferência
este ano são as palestras nas áreas
de genômica e nanotecnologia, as
duas únicas a ter dois dias agendados na programação.
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