São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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SP calcula emissão, sem revelar emissor

Inventário divulgado ontem indica que transporte e indústria paulistas emitiram 81 milhões de toneladas de CO2 em 2006

Siderúrgicas, refinarias e petroquímicas lideram lista de poluidores, que deverá ser divulgada em 30 dias, promete governo estadual

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Era para o público ter conhecido ontem os nomes dos maiores contribuidores industriais do efeito estufa no Estado de São Paulo. Mas o governo divulgou o inventário estadual de emissões de gás carbônico (CO2) sem nomear os emissores. O Estado emitiu, em 2006, 81 milhões de toneladas do gás.
Desse total, a indústria contribuiu com 38 milhões de toneladas e o setor de transportes (aéreo e terrestre) com 43 milhões de toneladas.
O inventário buscou determinar a emissão total por queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) no setor industrial paulista, o maior do Brasil.
Os dados foram solicitados a 378 empresas e fornecidos por parte significativa delas -329. O governo considera que essa é uma boa aproximação ao total de emissões do Estado.
"Das 329 empresas que forneceram de forma voluntária os dados, uma siderúrgica, três refinarias e uma petroquímica respondem por 60% desse total de emissões que estamos divulgando hoje [ontem]", disse o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Francisco Graziano Neto. "Elas estão disparadas na frente."

"Consideração"
Graziano negou que a divulgação da lista dos maiores emissores do Estado, que havia sido anunciada na véspera pela própria secretaria, tenha sido abortada de última hora.
"O professor [José] Goldemberg não está no Brasil. Seria uma falta de consideração com ele divulgar essa lista agora", disse Graziano. De acordo com o secretário, o pesquisador da USP, seu antecessor no cargo, é o pai da idéia. "Ele nos sugeriu fazer esse inventário". Graziano prometeu que a lista será divulgada em 30 dias.
O número total de emissões divulgado ontem representa pelo menos 25% do total nacional, que em 2005 chegou a 330 milhões de toneladas - O PIB (Produto Interno Bruto) de São Paulo é 31% do país.
Enquanto as contas nacionais consideram, por exemplo, o setor da construção civil, um grande emissor de gás carbônico, o inventário paulista não computou esse segmento.
De posse dos números das emissões paulistas, Graziano disse que agora o Estado poderá pensar em metas de redução das emissões de carbono. Isso vai na contramão do que o governo federal defende: a posição oficial do Brasil nas negociações internacionais de combate ao efeito estufa é que países pobres não devem ser obrigados a cortar emissões.

Siderurgia
Pelos dados divulgados ontem, o setor siderúrgico é o grande vilão das emissões.
A Folha apurou que o maior emissor do Estado é a Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), instalada em Cubatão. A empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que desconhece esse assunto.
Na comparação com o inventário de emissões do Estado publicado em 1997 também pela Secretaria do Meio Ambiente, o setor de aço fez saltar sua parcela de culpa no efeito estufa nesse período: de 33% para 70,1%, devido basicamente ao aumento da produção
Apesar de o setor de transporte emitir mais que o industrial como um todo, Graziano procurou relativizar esse dado.
Nas contas apresentadas por ele, São Paulo deixou de emitir 50 milhões de toneladas de gás carbônico, por causa do uso de combustíveis não-fósseis.
Da queima de combustível computada no inventário, 23% veio de matrizes fósseis e 77% de fontes renováveis.
Apesar de existir um esforço para reduzir as queimadas em todo o Estado, essa prática, aliada ao tipo de solo onde ocorre o plantio de cana, segundo estudos da USP, nem sempre faz com que as emissões de carbono proporcionadas pela queima do álcool sejam totalmente reabsorvidas pela fotossíntese. Por isso, o número do governo de 50 milhões de toneladas de redução pode estar superestimado.


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