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SP calcula emissão, sem revelar emissor
Inventário divulgado ontem indica que transporte e indústria paulistas emitiram 81 milhões de toneladas de CO2 em 2006
Siderúrgicas, refinarias e petroquímicas lideram lista
de poluidores, que deverá ser divulgada em 30 dias,
promete governo estadual
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Era para o público ter conhecido ontem os nomes dos maiores contribuidores industriais
do efeito estufa no Estado de
São Paulo. Mas o governo divulgou o inventário estadual de
emissões de gás carbônico
(CO2) sem nomear os emissores. O Estado emitiu, em 2006,
81 milhões de toneladas do gás.
Desse total, a indústria contribuiu com 38 milhões de toneladas e o setor de transportes (aéreo e terrestre) com 43
milhões de toneladas.
O inventário buscou determinar a emissão total por queima de combustíveis fósseis
(petróleo, carvão mineral e gás
natural) no setor industrial
paulista, o maior do Brasil.
Os dados foram solicitados a
378 empresas e fornecidos por
parte significativa delas -329.
O governo considera que essa é
uma boa aproximação ao total
de emissões do Estado.
"Das 329 empresas que forneceram de forma voluntária
os dados, uma siderúrgica, três
refinarias e uma petroquímica
respondem por 60% desse total de emissões que estamos divulgando hoje [ontem]", disse o
secretário de Meio Ambiente
do Estado de São Paulo, Francisco Graziano Neto. "Elas estão disparadas na frente."
"Consideração"
Graziano negou que a divulgação da lista dos maiores
emissores do Estado, que havia
sido anunciada na véspera pela
própria secretaria, tenha sido
abortada de última hora.
"O professor [José] Goldemberg não está no Brasil. Seria
uma falta de consideração com
ele divulgar essa lista agora",
disse Graziano. De acordo com
o secretário, o pesquisador da
USP, seu antecessor no cargo, é
o pai da idéia. "Ele nos sugeriu
fazer esse inventário". Graziano prometeu que a lista será divulgada em 30 dias.
O número total de emissões
divulgado ontem representa
pelo menos 25% do total nacional, que em 2005 chegou a 330
milhões de toneladas - O PIB
(Produto Interno Bruto) de São
Paulo é 31% do país.
Enquanto as contas nacionais consideram, por exemplo,
o setor da construção civil, um
grande emissor de gás carbônico, o inventário paulista não
computou esse segmento.
De posse dos números das
emissões paulistas, Graziano
disse que agora o Estado poderá pensar em metas de redução
das emissões de carbono. Isso
vai na contramão do que o governo federal defende: a posição oficial do Brasil nas negociações internacionais de combate ao efeito estufa é que países pobres não devem ser obrigados a cortar emissões.
Siderurgia
Pelos dados divulgados ontem, o setor siderúrgico é o
grande vilão das emissões.
A Folha apurou que o maior
emissor do Estado é a Cosipa
(Companhia Siderúrgica Paulista), instalada em Cubatão. A
empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que
desconhece esse assunto.
Na comparação com o inventário de emissões do Estado
publicado em 1997 também pela Secretaria do Meio Ambiente, o setor de aço fez saltar sua
parcela de culpa no efeito estufa nesse período: de 33% para
70,1%, devido basicamente ao
aumento da produção
Apesar de o setor de transporte emitir mais que o industrial como um todo, Graziano
procurou relativizar esse dado.
Nas contas apresentadas por
ele, São Paulo deixou de emitir
50 milhões de toneladas de gás
carbônico, por causa do uso de
combustíveis não-fósseis.
Da queima de combustível
computada no inventário, 23%
veio de matrizes fósseis e 77%
de fontes renováveis.
Apesar de existir um esforço
para reduzir as queimadas em
todo o Estado, essa prática,
aliada ao tipo de solo onde
ocorre o plantio de cana, segundo estudos da USP, nem
sempre faz com que as emissões de carbono proporcionadas pela queima do álcool sejam totalmente reabsorvidas
pela fotossíntese. Por isso, o
número do governo de 50 milhões de toneladas de redução
pode estar superestimado.
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