São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2010

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Célula adulta não remonta coração, afirma pesquisa

Embora ajudem a formar vasos sanguíneos, essas células-tronco têm ação modesta

Células, contudo, podem ter papel ao evitar problemas cardíacos mais sérios; ajuda cirúrgica também deve ser crucial em futuras terapias

Mauricio Lima/France Presse
Técnico manipula células-tronco embrionárias em laboratório

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma análise dos resultados conseguidos até agora com o uso de células-tronco para tratar doenças cardíacas mostra que ainda vai ser preciso muito trabalho para que seja possível falar em curas. As células-tronco adultas, por exemplo, revelaram-se incapazes de reconstruir o tecido do coração, ao contrário do que se esperava, e o uso de outros tipos celulares em pessoas ainda está distante.
"Eu não diria que se trata de uma avaliação pessimista, embora, de fato, ela seja bastante crítica", disse à Folha o médico José Eduardo Krieger, do Incor (Instituto do Coração). "O importante é que o campo está mais maduro. E é claro que a gente não conseguiria saber onde a coisa não funcionou, e como melhorar, sem esses oito anos de tentativas", afirma Krieger, que assina a análise junto com colegas da Holanda no periódico científico "Science Translational Medicine".
No caso das células-tronco adultas, em geral obtidas do próprio paciente que vai ser tratado, o balde de água fria é mais dolorido porque elas chegaram rápido aos testes com pacientes humanos. Isso aconteceu porque o transplante desse tipo de célula, ao ocorrer dentro do mesmo organismo, por assim dizer, não traz riscos de rejeição. Havia a expectativa de que ao menos algumas delas pudessem ter grande versatilidade, assumindo o papel das células do coração e reconstruindo o órgão.
Esse potencial de "curinga" é real no caso das células-tronco embrionárias. Mas, no caso das adultas, a coisa se revelou mais complexa. "Elas não são o curinga do baralho, como a gente acreditava na fase inicial, mais ingênua, da pesquisa", diz Krieger. Administrá-las até melhora um pouco a atividade cardíaca, aparentemente porque elas produzem substâncias que levam o órgão a se regenerar em parte, além de facilitarem o surgimento de vasos sanguíneos, o que também ajuda.
Conforme os testes clínicos foram abarcando mais pacientes, as supostas melhoras dramáticas dos primeiros doentes foram ficando menos impressionantes. "Nesses casos, é provável que o efeito placebo [a simples influência psicológica positiva do tratamento sobre o doente] tenha agido."

Novos rumos
As decepções, contudo, devem trazer correções de rumo. Para Krieger, as células adultas podem virar a abordagem indicada para prevenir problemas mais sérios, como infartos, em certos pacientes. No caso de pessoas com o coração "crescido" por problemas como o mal de Chagas, mesmo as células embrionárias não serão capazes de corrigir o formato do órgão -uma cirurgia de reconstrução é indispensável.
"E, em outros casos, precisamos gerar novas células cardíacas, e para isso um caminho é reprogramar células adultas para que elas se comportem como embrionárias", diz ele, referindo-se às chamadas células iPS, uma das grandes promessas do ramo hoje. Também pode-se buscar as poucas células do coração com capacidade de se regenerar e transplantá-las.


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