São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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Grupo investe em anticorpo contra tumor

Parceria dos institutos Ludwig e Butantan com nova empresa brasileira tenta desenvolver terapia em área de ponta

Cientistas querem construir proteínas imunológicas sintéticas para tratar o câncer de maneira seletiva e reduzir risco de metástase

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo brasileiro resolveu correr o risco do setor biotecnológico e entrar na luta contra o câncer. Apresentada ontem em São Paulo, em um evento realizado no Instituto Butantan que contou com a presença do ministro da ciência e tecnologia, Sergio Rezende, a Recepta Biopharma quer colocar no mercado em menos de uma década produtos antitumorais.
Para isso, o ex-diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), José Fernando Perez, largou seu posto no setor público e nos últimos dois anos tentou alinhavar um projeto inovador no Brasil.
De um lado ele conseguiu como sócio o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, de outro, o apoio financeiro pessoal de Jovelino Mineiro (agropecuarista) e Emílio Odebrecht (empreiteiro). Os dois empresários e o físico Perez criaram a pequena PR&D Biotech, empresa que vai ter 51% das ações da companhia maior que acaba de nascer. O Ludwig terá 49%.
Nos próximos cinco anos estão previstos investimentos de R$ 30 milhões no projeto.
"Esse é um desenho novo de um modelo que nos parece muito interessante. Esse projeto está baseado em pessoas sérias e na ciência, o que é fundamental para uma instituição de filantropia como a nossa", disse à Folha Andrew Simpson, diretor executivo do Ludwig.
"Para nós é melhor quando não precisamos vender algo. Quando o interesse é apenas a parte comercial, isso não é bom", diz o pesquisador, que considerou o genoma do câncer foi fundamental.
O Ludwig, no caso do projeto brasileiro, licenciou para a empresa Recepta um tipo de anticorpo monoclonal (espécie de proteína sintética que pode ser usada com fins terapêuticos contra o câncer) direcionado para o câncer de ovário, mas com potencial para funcionar em outros tumores epiteliais.
"Aqui no Brasil nós vamos fazer os testes clínicos da fase dois e depois da três [as duas últimas etapas antes de o produto poder ser vendido]. Isso é trabalho para os próximos cincos anos", disse Perez.
Para conseguir tocar esse projeto, a Recepta acertou parcerias com várias instituições de pesquisas brasileiras, além do próprio Instituto Butantan. Nesses acordos, o grupo conseguiu financiamento público, por meio dos canais existentes para esse tipo de operação.
Também inaugurado ontem, o Laboratório de Anticorpos Monoclonais do Instituto Butantan vai trabalhar para que vários tipos de linhagens celulares possam ser desenvolvidas e ficarem totalmente prontas para produção em escala comercial. Quando isso ocorrer, haverá uma nova etapa no projeto. Ou o Butantan cria uma nova fábrica, ou a produção dos novos anticorpos monoclonais será terceirizada.
"Temos projetos desafiadores pela frente. Mas isso é uma linha de pesquisa que já existe há 15 anos aqui no instituto", disse a pesquisadora Ana Maria Moro, um dos elos entre o público e o privado, duas esferas que terão que dialogar muito para que o projeto dê certo. A Recepta colocará dinheiro no laboratório do Butantan.
Apesar de o discurso público ter sido a tônica no anúncio da parceria, os investidores também sabem que o mercado de anticorpos movimentou cerca de US$ 6,7 bilhões em 2005 no setor farmacêutico.


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