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Grupo investe em anticorpo contra tumor
Parceria dos institutos Ludwig e Butantan com nova empresa brasileira tenta desenvolver terapia em área de ponta
Cientistas querem construir proteínas imunológicas sintéticas para tratar o câncer de maneira seletiva e reduzir risco de metástase
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo brasileiro resolveu
correr o risco do setor biotecnológico e entrar na luta contra
o câncer. Apresentada ontem
em São Paulo, em um evento
realizado no Instituto Butantan que contou com a presença
do ministro da ciência e tecnologia, Sergio Rezende, a Recepta Biopharma quer colocar no
mercado em menos de uma década produtos antitumorais.
Para isso, o ex-diretor científico da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo), José Fernando
Perez, largou seu posto no setor
público e nos últimos dois anos
tentou alinhavar um projeto
inovador no Brasil.
De um lado ele conseguiu como sócio o Instituto Ludwig de
Pesquisa sobre o Câncer, de outro, o apoio financeiro pessoal
de Jovelino Mineiro (agropecuarista) e Emílio Odebrecht
(empreiteiro). Os dois empresários e o físico Perez criaram a
pequena PR&D Biotech, empresa que vai ter 51% das ações
da companhia maior que acaba
de nascer. O Ludwig terá 49%.
Nos próximos cinco anos estão previstos investimentos de
R$ 30 milhões no projeto.
"Esse é um desenho novo de
um modelo que nos parece
muito interessante. Esse projeto está baseado em pessoas sérias e na ciência, o que é fundamental para uma instituição de
filantropia como a nossa", disse
à Folha Andrew Simpson, diretor executivo do Ludwig.
"Para nós é melhor quando
não precisamos vender algo.
Quando o interesse é apenas a
parte comercial, isso não é
bom", diz o pesquisador, que
considerou o genoma do câncer foi fundamental.
O Ludwig, no caso do projeto
brasileiro, licenciou para a empresa Recepta um tipo de anticorpo monoclonal (espécie de
proteína sintética que pode ser
usada com fins terapêuticos
contra o câncer) direcionado
para o câncer de ovário, mas
com potencial para funcionar
em outros tumores epiteliais.
"Aqui no Brasil nós vamos
fazer os testes clínicos da fase
dois e depois da três [as duas
últimas etapas antes de o produto poder ser vendido]. Isso é
trabalho para os próximos cincos anos", disse Perez.
Para conseguir tocar esse
projeto, a Recepta acertou parcerias com várias instituições
de pesquisas brasileiras, além
do próprio Instituto Butantan.
Nesses acordos, o grupo conseguiu financiamento público,
por meio dos canais existentes
para esse tipo de operação.
Também inaugurado ontem,
o Laboratório de Anticorpos
Monoclonais do Instituto Butantan vai trabalhar para que
vários tipos de linhagens celulares possam ser desenvolvidas
e ficarem totalmente prontas
para produção em escala comercial. Quando isso ocorrer,
haverá uma nova etapa no projeto. Ou o Butantan cria uma
nova fábrica, ou a produção dos
novos anticorpos monoclonais
será terceirizada.
"Temos projetos desafiadores pela frente. Mas isso é uma
linha de pesquisa que já existe
há 15 anos aqui no instituto",
disse a pesquisadora Ana Maria
Moro, um dos elos entre o público e o privado, duas esferas
que terão que dialogar muito
para que o projeto dê certo. A
Recepta colocará dinheiro no
laboratório do Butantan.
Apesar de o discurso público
ter sido a tônica no anúncio da
parceria, os investidores também sabem que o mercado de
anticorpos movimentou cerca
de US$ 6,7 bilhões em 2005 no
setor farmacêutico.
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