São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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MEDICINA

Substância fabricada por americanos e suíços impediu o contágio vaginal do parasita e será testada em humanos

Droga bloqueia vírus da Aids em macacas

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas nos EUA e na Suíça desenvolveram um meio de trancar a porta de entrada do organismo para o HIV, o vírus causador da Aids, e evitar o contágio vaginal da doença. Trata-se de um importante avanço, mas eles advertem: os testes da droga, por ora, só foram feitos em símios.
Destruir o vírus continua sendo missão impossível. Então, o grupo liderado por Michael Lederman, da Case Western Reserve University (EUA), Ronald Veazey, do Centro Nacional Tulane de Pesquisa de Primatas (EUA), e Robin Offord, da Universidade de Genebra (Suíça), buscou uma estratégia mais sutil, divulgada hoje na revista americana "Science" (www.sciencemag.org).
"A droga é um inibidor de "entrada". Ela só impede o encaixe molecular do vírus, mas não chega a destruir ou danificar o envelope viral", diz Offord.
Em termos mais simples: a droga é o equivalente molecular daquele segurança "armário" que fica na porta das festas afugentando os penetras. Ele se coloca na frente de uma das principais portas de entrada do HIV no organismo -um receptor chamado CCR5, que fica na superfície das células. Aí, como está na frente, impede o vírus de se ligar a esse receptor e entrar.
Foram testadas 30 macacas resos; 25 receberam a tal substância, chamada PSC-RANTES, em diferentes concentrações e 5 receberam apenas soro fisiológico. A aplicação foi direta, intravaginal.
Quinze minutos após a aplicação, os cientistas expuseram as macacas a uma linhagem do vírus SHIV, uma mistura do conhecido HIV com o SIV, seu equivalente símio. O resultado: dos cinco animais de controle, sem proteção alguma, quatro foram infectados. Já os cinco que receberam a maior dose da droga foram todos protegidos contra a infecção.
Com o sucesso, os pesquisadores já pensam agora em levar a droga aos testes com humanos. "A primeira coisa, depois que todos os testes de segurança em laboratório forem feitos, será pegar um pequeno grupo de voluntários que não estejam sob risco de infecção e fazê-los usar o material para procurar possíveis efeitos colaterais", diz Offord.
Embora seja uma boa notícia para o futuro controle do espalhamento da Aids, é bom não se entusiasmar demais. "Mesmo que consigamos levar um medicamento barato e efetivo ao mercado -o que ainda está há anos de distância-, ele nunca será tão eficiente quanto uma camisinha", diz Veazey. "Não se engane quanto a isso: camisinhas sempre serão melhor proteção contra a Aids e outras doenças do que um composto aplicado na vagina."
"O lugar em que a epidemia está se espalhando mais rápido é a África (com a Ásia em segundo), e ambos têm regiões dominadas por homens ou em que práticas culturais/religiosas impedem o uso de preservativo. Essas substâncias são um meio de permitir que as mulheres se protejam."


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