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MEDICINA
Substância fabricada por americanos e suíços impediu o contágio vaginal do parasita e será testada em humanos
Droga bloqueia vírus da Aids em macacas
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas nos EUA e na Suíça
desenvolveram um meio de trancar a porta de entrada do organismo para o HIV, o vírus causador
da Aids, e evitar o contágio vaginal da doença. Trata-se de um importante avanço, mas eles advertem: os testes da droga, por ora, só
foram feitos em símios.
Destruir o vírus continua sendo
missão impossível. Então, o grupo liderado por Michael Lederman, da Case Western Reserve
University (EUA), Ronald Veazey, do Centro Nacional Tulane
de Pesquisa de Primatas (EUA), e
Robin Offord, da Universidade de
Genebra (Suíça), buscou uma estratégia mais sutil, divulgada hoje
na revista americana "Science"
(www.sciencemag.org).
"A droga é um inibidor de "entrada". Ela só impede o encaixe
molecular do vírus, mas não chega a destruir ou danificar o envelope viral", diz Offord.
Em termos mais simples: a droga é o equivalente molecular daquele segurança "armário" que fica na porta das festas afugentando os penetras. Ele se coloca na
frente de uma das principais portas de entrada do HIV no organismo -um receptor chamado
CCR5, que fica na superfície das
células. Aí, como está na frente,
impede o vírus de se ligar a esse
receptor e entrar.
Foram testadas 30 macacas resos; 25 receberam a tal substância,
chamada PSC-RANTES, em diferentes concentrações e 5 receberam apenas soro fisiológico. A
aplicação foi direta, intravaginal.
Quinze minutos após a aplicação, os cientistas expuseram as
macacas a uma linhagem do vírus
SHIV, uma mistura do conhecido
HIV com o SIV, seu equivalente
símio. O resultado: dos cinco animais de controle, sem proteção alguma, quatro foram infectados. Já
os cinco que receberam a maior
dose da droga foram todos protegidos contra a infecção.
Com o sucesso, os pesquisadores já pensam agora em levar a
droga aos testes com humanos.
"A primeira coisa, depois que todos os testes de segurança em laboratório forem feitos, será pegar
um pequeno grupo de voluntários que não estejam sob risco de
infecção e fazê-los usar o material
para procurar possíveis efeitos
colaterais", diz Offord.
Embora seja uma boa notícia
para o futuro controle do espalhamento da Aids, é bom não se entusiasmar demais. "Mesmo que
consigamos levar um medicamento barato e efetivo ao mercado -o que ainda está há anos de
distância-, ele nunca será tão
eficiente quanto uma camisinha",
diz Veazey. "Não se engane quanto a isso: camisinhas sempre serão
melhor proteção contra a Aids e
outras doenças do que um composto aplicado na vagina."
"O lugar em que a epidemia está
se espalhando mais rápido é a
África (com a Ásia em segundo), e
ambos têm regiões dominadas
por homens ou em que práticas
culturais/religiosas impedem o
uso de preservativo. Essas substâncias são um meio de permitir
que as mulheres se protejam."
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