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FUTURO
Pesquisadores estudam novas vacinas, como a de DNA, para combater doença
ainda sem forma de prevenção
Combate à malária
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
Cientistas dos EUA desenvolvem
uma vacina de DNA (material genético) para combater a malária,
doença tropical que ainda não
conta com meios de prevenção.
A vacina usa um trecho de DNA
do protozoário que causa a malária (veja quadro). O material genético do organismo é inserido na
corrente sanguínea do paciente,
cujo sistema de defesa "fabrica"
anticorpos e células (linfócitos)
chamadas CD8+.
O desenvolvimento da vacina está sendo conduzido por Stephen L.
Hoffman, do Instituto Naval de
Pesquisa Médica, em Bethesda,
Maryland (EUA). Até agora, a vacina foi testada em 20 voluntários.
A pesquisa, publicada em outubro na revista "Science", indicou
que houve aumento pelo corpo
humano da produção da célula de
defesa CD8+, mas ainda não foi
determinado se essa célula combateria a malária com eficácia.
Para Marcos Boulos, professor
de doenças infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo),
o estudo sobre a vacina de DNA
ainda está no começo.
"Com a vacina, a contagem dos
linfócitos CD8+ aumenta, mas
resta saber se eles combatem a malária", afirma o pesquisador.
Boulos diz que a pesquisa de
Hoffman ainda precisará passar
pelo que os pesquisadores chamam de "desafio": vacinar estudantes voluntários e os colocar em
contato com o mosquito transmissor, para ver se a forma de prevenção realmente funciona.
Segundo os pesquisadores norte- americanos, a produção dessa
vacina seria mais rápida e teria um
custo menor do que a fabricação
de vacinas convencionais.
Substituindo o DNA
Boulos diz que isso seria possível
desde que a vacina fosse produzida em larga escala. "A engenharia
genética barateou muito o custo
de vacinas. É possível que, com isso, torne-se barato a produção de
vacinas de DNA."
Experiências de vacinas contra a
malária, até agora, foram malsucedidas, segundo Boulos.
Um exemplo é o caso da pesquisa de Manuel Patarroyo, da Universidade Nacional da Colômbia,
que desenvolveu uma vacina a
partir da modelagem química de
uma proteína do microrganismo.
Nesse sistema, a vacina é produzida quimicamente a partir de um
trecho de material genético do
protozoário, em vez de ser o
"próprio" DNA.
Boulos testou a vacina de Patarroyo na cidade de Costa Marques,
em Rondônia, durante experimentos em várias regiões da América do Sul em 1994. Segundo ele,
os testes não indicaram que houve
proteção total contra a doença.
Em outro estudo do qual Hoffman também participou, os pesquisadores determinaram a sequência genética completa de um
trecho do Plasmodium falciparum, protozoário que provoca um
dos tipos mais graves da malária.
O estudo, patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde (EUA),
foi publicado na "Science" de 6
de novembro. Cerca de 200 genes
foram identificados, muitos deles
provavelmente ligados a funções
essenciais do protozoário, incluindo genes que favorecem a
contaminação em seres humanos.
Segundo os cientistas, essa nova
pesquisa deverá auxiliar o desenvolvimento de vacinas e de novas
drogas que combatam a malária.
Preocupação mundial
Segundo dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS), mais de
40% da população mundial corre
riscos de contrair a doença.
Dados de 1997 indicam que a
malária continua endêmica, ou seja, que existe constantemente em
um mesmo lugar, em 100 países e
territórios, com cerca de 300 milhões a 500 milhões de infecções
por ano, com 1,5 milhão a 2,7 milhões de mortes.
A OMS considera a malária como o maior problema de doença
nos países do terceiro Mundo.
Mais de 90% dos casos ocorrem na
região tropical da África.
No Brasil, os índices de incidência de malária aumentaram desde
a década de 70 até 1990. Do total de
casos registrados na América em
1992, de 1.187.316 casos, o Brasil é
o país com maior incidência de
malária, com 51,4% do total.
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