São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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FUTURO
Pesquisadores estudam novas vacinas, como a de DNA, para combater doença ainda sem forma de prevenção
Combate à malária

MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

Cientistas dos EUA desenvolvem uma vacina de DNA (material genético) para combater a malária, doença tropical que ainda não conta com meios de prevenção.
A vacina usa um trecho de DNA do protozoário que causa a malária (veja quadro). O material genético do organismo é inserido na corrente sanguínea do paciente, cujo sistema de defesa "fabrica" anticorpos e células (linfócitos) chamadas CD8+.
O desenvolvimento da vacina está sendo conduzido por Stephen L. Hoffman, do Instituto Naval de Pesquisa Médica, em Bethesda, Maryland (EUA). Até agora, a vacina foi testada em 20 voluntários.
A pesquisa, publicada em outubro na revista "Science", indicou que houve aumento pelo corpo humano da produção da célula de defesa CD8+, mas ainda não foi determinado se essa célula combateria a malária com eficácia.
Para Marcos Boulos, professor de doenças infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o estudo sobre a vacina de DNA ainda está no começo.
"Com a vacina, a contagem dos linfócitos CD8+ aumenta, mas resta saber se eles combatem a malária", afirma o pesquisador.
Boulos diz que a pesquisa de Hoffman ainda precisará passar pelo que os pesquisadores chamam de "desafio": vacinar estudantes voluntários e os colocar em contato com o mosquito transmissor, para ver se a forma de prevenção realmente funciona.
Segundo os pesquisadores norte- americanos, a produção dessa vacina seria mais rápida e teria um custo menor do que a fabricação de vacinas convencionais.

Substituindo o DNA
Boulos diz que isso seria possível desde que a vacina fosse produzida em larga escala. "A engenharia genética barateou muito o custo de vacinas. É possível que, com isso, torne-se barato a produção de vacinas de DNA."
Experiências de vacinas contra a malária, até agora, foram malsucedidas, segundo Boulos.
Um exemplo é o caso da pesquisa de Manuel Patarroyo, da Universidade Nacional da Colômbia, que desenvolveu uma vacina a partir da modelagem química de uma proteína do microrganismo.
Nesse sistema, a vacina é produzida quimicamente a partir de um trecho de material genético do protozoário, em vez de ser o "próprio" DNA.
Boulos testou a vacina de Patarroyo na cidade de Costa Marques, em Rondônia, durante experimentos em várias regiões da América do Sul em 1994. Segundo ele, os testes não indicaram que houve proteção total contra a doença.
Em outro estudo do qual Hoffman também participou, os pesquisadores determinaram a sequência genética completa de um trecho do Plasmodium falciparum, protozoário que provoca um dos tipos mais graves da malária.
O estudo, patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde (EUA), foi publicado na "Science" de 6 de novembro. Cerca de 200 genes foram identificados, muitos deles provavelmente ligados a funções essenciais do protozoário, incluindo genes que favorecem a contaminação em seres humanos.
Segundo os cientistas, essa nova pesquisa deverá auxiliar o desenvolvimento de vacinas e de novas drogas que combatam a malária.

Preocupação mundial
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 40% da população mundial corre riscos de contrair a doença.
Dados de 1997 indicam que a malária continua endêmica, ou seja, que existe constantemente em um mesmo lugar, em 100 países e territórios, com cerca de 300 milhões a 500 milhões de infecções por ano, com 1,5 milhão a 2,7 milhões de mortes.
A OMS considera a malária como o maior problema de doença nos países do terceiro Mundo. Mais de 90% dos casos ocorrem na região tropical da África.
No Brasil, os índices de incidência de malária aumentaram desde a década de 70 até 1990. Do total de casos registrados na América em 1992, de 1.187.316 casos, o Brasil é o país com maior incidência de malária, com 51,4% do total.



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