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Pescar menos pode dar mais lucro, mostra estudo
Trabalho para capturar peixes em populações fragmentadas pode dar prejuízo
Simulação de australianos e americanos mostra que o lucro dos pescadores em algumas regiões do Pacífico poderia aumentar até 25%
HELGA COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O lucro dos pescadores pode
ser maior quando eles se contentam em obter menos peixe.
A conclusão aparentemente
ilógica saiu de um estudo de
americanos e australianos publicado na semana passada. O
artigo, baseado em simulações,
mostra que a quantidade de
trabalho despendida para perseguir peixes em populações
que sofrem sobrepesca pode
exceder os ganhos.
O trabalho da Universidade
Nacional da Austrália e da Universidade de Washington (de
Seattle, EUA) mostra casos em
que pescadores se dariam bem
ao deixar o número de peixes
aumentar além dos níveis tradicionalmente considerados
ideais. Os barcos não teriam de
investir tanto dinheiro, por
exemplo, em gasolina e, logo, os
lucros seriam maiores.
O estudo, divulgado na revista "Science", mostra um caso de
sucesso em unir preservação
ambiental e maximização de
lucros. Algumas das populações de peixes estudadas pelos
pesquisadores estão entre as
25% que estão sofrendo com a
sobrepesca, segundo o FDA
(órgão regulador de alimentos
e fármacos nos EUA).
O principal gargalo enfrentado por esses animais é sua taxa
de reprodução lenta, que não
acompanha a demanda.
"Isto prova que os objetivos,
quer econômicos, quer ecológicos, concordam ambos que deverá haver uma pressão pesqueira menor, melhores sistemas ecomarinhos e melhores
indústrias econômicas", disse à
Folha Ray Hilborn, professor
de ciências aquáticas e pesqueiras na Universidade de Washington, em Seattle.
Efeito estoque
Para estabelecer uma relação
entre o estoque marinho e o lucro, os pesquisadores simularam as vendas de três espécies
de peixe e uma de crustáceo,
planejando a receita e as curvas
do lucro contra a biomassa da
população no mar. O resultado
foi semelhante para o atum
amarelo, o atum-de-olho-grande (do Pacífico leste e central),
o camarão-tigre e o olho-de-vidro (da costa da Austrália)
Descobriram que o lucro poderia subir 25% na pesca dos
atuns e do camarão e 10% na do
olho-de-vidro se a exploração
tivesse um limite mais rígido.
Segundo os cientistas, cálculos anteriores da maximização
do lucro falharam porque assumiram que os custos pesqueiros são independentes da
quantidade de peixes disponível. "Apesar de esse "efeito estoque" poder ser, em alguns casos,
relativamente pequeno, as nossas estimativas indicam que o
efeito é grande nos níveis de estoque atuais, enquanto os custos de pesca crescem em grande proporção quando o estoque
é reduzido", afirma Hilborn.
Segundo o pesquisador, a
Nova Zelândia e a Austrália são
exemplos de países que, em algumas circunstâncias, já teriam limitado o número de peixes capturados para que isso
pudesse aumentar a renda.
O cientista disse esperar que,
a partir de agora, mais países
passem a adotar uma política
de exploração mais racional.
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