São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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Pescar menos pode dar mais lucro, mostra estudo

Trabalho para capturar peixes em populações fragmentadas pode dar prejuízo

Simulação de australianos e americanos mostra que o lucro dos pescadores em algumas regiões do Pacífico poderia aumentar até 25%

HELGA COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O lucro dos pescadores pode ser maior quando eles se contentam em obter menos peixe. A conclusão aparentemente ilógica saiu de um estudo de americanos e australianos publicado na semana passada. O artigo, baseado em simulações, mostra que a quantidade de trabalho despendida para perseguir peixes em populações que sofrem sobrepesca pode exceder os ganhos.
O trabalho da Universidade Nacional da Austrália e da Universidade de Washington (de Seattle, EUA) mostra casos em que pescadores se dariam bem ao deixar o número de peixes aumentar além dos níveis tradicionalmente considerados ideais. Os barcos não teriam de investir tanto dinheiro, por exemplo, em gasolina e, logo, os lucros seriam maiores.
O estudo, divulgado na revista "Science", mostra um caso de sucesso em unir preservação ambiental e maximização de lucros. Algumas das populações de peixes estudadas pelos pesquisadores estão entre as 25% que estão sofrendo com a sobrepesca, segundo o FDA (órgão regulador de alimentos e fármacos nos EUA).
O principal gargalo enfrentado por esses animais é sua taxa de reprodução lenta, que não acompanha a demanda.
"Isto prova que os objetivos, quer econômicos, quer ecológicos, concordam ambos que deverá haver uma pressão pesqueira menor, melhores sistemas ecomarinhos e melhores indústrias econômicas", disse à Folha Ray Hilborn, professor de ciências aquáticas e pesqueiras na Universidade de Washington, em Seattle.

Efeito estoque
Para estabelecer uma relação entre o estoque marinho e o lucro, os pesquisadores simularam as vendas de três espécies de peixe e uma de crustáceo, planejando a receita e as curvas do lucro contra a biomassa da população no mar. O resultado foi semelhante para o atum amarelo, o atum-de-olho-grande (do Pacífico leste e central), o camarão-tigre e o olho-de-vidro (da costa da Austrália)
Descobriram que o lucro poderia subir 25% na pesca dos atuns e do camarão e 10% na do olho-de-vidro se a exploração tivesse um limite mais rígido.
Segundo os cientistas, cálculos anteriores da maximização do lucro falharam porque assumiram que os custos pesqueiros são independentes da quantidade de peixes disponível. "Apesar de esse "efeito estoque" poder ser, em alguns casos, relativamente pequeno, as nossas estimativas indicam que o efeito é grande nos níveis de estoque atuais, enquanto os custos de pesca crescem em grande proporção quando o estoque é reduzido", afirma Hilborn.
Segundo o pesquisador, a Nova Zelândia e a Austrália são exemplos de países que, em algumas circunstâncias, já teriam limitado o número de peixes capturados para que isso pudesse aumentar a renda.
O cientista disse esperar que, a partir de agora, mais países passem a adotar uma política de exploração mais racional.


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