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Agricultura pode combater aquecimento
Troca de plantas atuais por variedades que refletem mais luz solar pode ajudar a resfriar a Terra, dizem pesquisadores
Estratégia é solução apenas parcial, mas complementa corte de emissão de CO2; medida seria mais eficaz na Europa, Ásia, EUA e Canadá
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A agricultura pode ser um
grande aliado para evitar o
aquecimento global. E uma forma "realista e prática" para
combater a mudança climática
é optar por cultivar as variedades de plantas que refletem
mais a luz solar. A ideia é defendida por pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino
Unido, na revista científica
"Current Biology" (www.cell.com/current-biology).
Segundo eles, a iniciativa poderia esfriar em 1C a temperatura média do verão na América do Norte, na Europa e na
Ásia. Pode parecer pouca coisa,
mas cientistas preveem que, se
houver um aumento da temperatura em mais de 2C, por
exemplo, poderão ficar mais
frequentes as secas graves, tormentas e inundações.
Segundo os pesquisadores,
alguma plantas cultiváveis têm
mais "albedo" -refletem mais
luz solar de volta para o espaço- do que outras. Ampliá-las
ajudaria a resfriar a Terra.
Uma plantação cultivada
normalmente já tem mais albedo do que uma floresta nativa,
mas derrubar árvores não é
bom negócio porque quando
elas se decompõem, provoca
uma grande emissão de carbono e gases de efeito estufa para
a atmosfera. A substituição de
uma planta cultivada por outra,
porém, não teria esse efeito negativo, e pode ser considerada.
O novo estudo afirma que a
adoção de plantas mais reflexivas não prejudicaria a produção de alimentos no mundo. A
escolha poderia se dar entre
variedades da mesma planta,
levando em conta o albedo de
cada uma, e não a troca de uma
espécie por outra.
Essa "biogeoengenharia" é
mais barata e viável do que planos mirabolantes de lançar
partículas resfriadoras na atmosfera ou construir um guarda-sol gigante no espaço, afirmam os cientistas.
Escolha de plantas
Mas quais seriam então as
melhores variedades para plantar? "Há relativamente poucas
pesquisas disponíveis sobre o
modo como diferentes variedades da mesma cultura, bem como as diferentes culturas, distinguem-se em reflexividade",
disse à Folha Andy Ridgwell,
um dos autores do estudo.
"Nós queremos abordar isso na
nossa próxima investigação."
Segundo Ridgwell, estudos
sobre as diferentes variedades
de milho já mostram que a disposição e orientação das folhas
mudam em cada uma delas, e
isso altera seu albedo.
Já a diferença na reflexividade entre variedades de cevada é
menor do que a observada no
milho. No sorgo, as variedades
também apresentam diferentes reflexidades. "Mas não há
muito mais informação disponível no momento além dessas", afirma o pesquisador.
Para ele, o sistema de créditos de carbono poderia ser usado para incentivar o produtor a
optar por uma variedade mais
reflexiva durante o plantio.
América do Sul
Apesar de o potencial para
esse tipo de mudança ser grande na Europa, Ásia e América
do Norte, o impacto da medida
seria pequeno no Brasil, diz
Ridgwell. "A densidade e extensão de terras aráveis na América do Sul, ignorando as pastagens e áreas de florestas, pelo
menos como é atualmente
prescrita no modelo climático
global, é relativamente baixa
quando comparada com a faixa
de plantações que se estende
pela Eurásia", afirma. Se as pastagens fossem levadas em conta, porém, o efeito para a América do Sul seria maior.
Solução parcial
Ridgwell diz que a "biogeoengenharia" cumpriria um
papel complementar aos esforços para reduzir emissões de
gases do efeito estufa, a real solução para frear o aquecimento.
"Se não houver uma redução
das emissões de CO2, por exemplo, não será resolvida a questão da ameaça à vida marinha
pela progressiva acidificação
do oceano", afirma o cientista.
"É preciso que haja um sentimento de urgência sobre o problema agora."
O uso de plantas agriculturáveis com grande albedo seria
apenas uma medida temporária para reduzir a gravidade das
ondas de calor e seus impactos
na agricultura e na saúde do
"Norte industrializado".
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