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MEDICINA
Cientistas do Ludwig, em São Paulo, identificam grupos de genes com a "assinatura" de cânceres de estômago
Instituto faz perfil molecular de tumor
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pesquisadores brasileiros conseguiram traçar um retrato molecular completo da evolução do
câncer de estômago, desde uma
inocente gastrite à formação de
tumores potencialmente letais.
Essa radiografia da doença, englobando tanto genes quanto proteínas de centenas de pacientes,
pode indicar, no futuro, quais deles teriam mais chance de desenvolver a doença.
O trabalho, coordenado pelo
bioquímico Luiz Fernando Lima
Reis, 44, do Hospital do Câncer e
do Instituto Ludwig de Pesquisa
sobre o Câncer de São Paulo, vem
destacado na capa da nova edição
da revista especializada "Cancer
Research" e indica uma quantidade respeitável de alvos moleculares cuja sintonia fina nas células
do estômago pode indicar uma
tendência à transformação em alguma forma de câncer.
De um lado, a pesquisa usou um
dos métodos mais bem-sucedidos e comuns nos estudos do genoma, o chamado "microarray",
ou chip de DNA. A técnica parte
da coleta, nas células dos pacientes, do mRNA (RNA mensageiro,
a molécula que transmite a informação contida no DNA para a
maquinaria da célula produzir
proteínas). A quantidade de cópias da seqüência de mRNA correspondente a um determinado
gene ajuda a estimar com que intensidade ele está ativo.
De outro lado, a equipe também
utilizou a técnica "tissue array",
ainda rara no Brasil, que analisa
diretamente as proteínas presentes nas células amostradas, permitindo verificar a abundância
dessas moléculas em cerca de 500
amostras ao mesmo tempo, reunidas numa única placa de vidro
vista ao microscópio.
Quatro fases
As amostras, obtidas em biópsias ou endoscopias de 99 pacientes, foram selecionadas de modo a
representar da forma mais abrangente possível os vários estágios
que acabam desembocando no
câncer de estômago.
As quatro fases escolhidas pelos
pesquisadores foram a normal,
em pessoas saudáveis; a presença
de gastrite (um dos fatores de risco para o câncer); as metaplasias
(especialização errada de um tecido, como a formação de células
intestinais onde deveria haver estomacais); e os tumores propriamente ditos. A expressão, ou grau
de ativação, de 376 genes foi analisada em cada tipo de célula.
Depois de verificar o padrão de
expressão desses genes, os pesquisadores iniciaram uma garimpagem estatística dos dados. Passaram a tentar identificar quais
conjuntos de genes (agrupados
em trincas ou pares, já que se espera sempre uma ação conjunta
deles) eram mais expressos em
cada uma das fases estudadas.
"O resultado ficou bonito, porque a expressão gênica corresponde na prática [às variações entre essas fases]", afirma o patologista Fernando Augusto Soares,
50, pesquisador do Hospital do
Câncer e co-autor do estudo.
Nada menos que 1.044 grupos
de genes se mostraram capazes de
diferenciar células normais de
cancerosas, mas apenas 17, para
separar o tecido com gastrite do
de tumores. E um único conjunto
foi capaz de distinguir metaplasias do câncer real.
"Nossos dados mostram que
pelo menos alguns genes que estão alterados no câncer já estão alterados na gastrite. Essa observação sustenta a hipótese de que,
durante a evolução para metaplasia, algumas amostras adquirem a
"assinatura molecular" do câncer",
afirma Lima Reis.
O Hospital do Câncer está pedindo ajuda a outras instituições
para obter amostras de pacientes
com metaplasia. A idéia é acompanhar essas pessoas por longos
períodos, de forma a verificar se
as metaplasias com assinatura
molecular de câncer acabam mesmo se transformando em tumores.
(RJL)
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