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REUNIÃO DA AAAS
Luas de Saturno e Júpiter estão na mira
Naves automáticas vão explorar os outros mares do Sistema Solar
REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO ESPECIAL A SEATTLE (EUA)
Enquanto os jipes Spirit e Opportunity se esfalfam no árido terreno marciano em busca de traços atuais ou antigos de água, o
Sistema Solar exterior abriga astros cheios da substância -satélites cuja exploração já está sendo
planejada por meio de testes de
tecnologias nas profundezas dos
oceanos da Terra.
"O problema não é achar água,
já que ela está por toda parte no
Universo, na forma de gelo. O
mais difícil é encontrar água líquida", resumiu Torrence Johnson,
do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (agência espacial norte-americana), durante a 170ª
Reunião Anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço
da Ciência), em Seattle, no noroeste dos Estados Unidos.
Johnson é um dos coordenadores do projeto Jimo (sigla para Orbitadores das Luas Geladas de Júpiter, em inglês), que pretende investigar os megaoceanos escondidos sob quilômetros de gelo nos
satélites do maior planeta do Sistema Solar. Ao lado de outros pesquisadores, Johnson apresentou
os últimos achados sobre a presença de água líquida e material
orgânico nesses mundos, que, depois do próprio Marte, são os melhores candidatos a abrigar formas rudimentares de vida.
Sonda a caminho
Por enquanto, os pesquisadores
vão ter de se contentar com a chegada iminente da nave não-tripulada Cassini às luas de Saturno, o
vizinho gigante de Júpiter, marcada para julho deste ano.
O britânico Ralph Lorenz, da
Universidade do Arizona, é um
dos responsáveis pela sonda Huygens, módulo de pouso europeu
da sonda Cassini que vai enfrentar o estranho ambiente de Titã,
satélite de Saturno que é a segunda maior lua do Sistema Solar.
"Devemos sobreviver ao pouso
na neve, ou em líquido, com a ajuda dos pára-quedas", disse Lorenz, jogando uma caneta no
chão para demonstrar a velocidade do impacto da Huygens sobre
a superfície da lua de Júpiter.
Titã, com seu tamanho intermediário entre Mercúrio e Marte, é
um verdadeiro parque de diversões para os interessados em entender quais as condições que levam ao surgimento da vida. Para
começar, explica Lorenz, o gás
predominante na atmosfera do
satélite é o nitrogênio, assim como na Terra, e uma camada de 60
km a 200 km de gelo encobre um
oceano de água líquida, com marés -criadas pela poderosa atração gravitacional de Saturno.
O papel da chuva na Terra, contudo, acaba ficando com o metano, molécula orgânica que dá à
flatulência seu cheiro característico. Ele é continuamente transformado pela radiação solar em etano, de forma que a superfície de
Titã provavelmente está coberta
de lagos desses hidrocarbonetos.
"São como lagos de gás natural
congelado, ou de gasolina", compara Lorenz. "É muito provável
que pousemos num desses lagos,
num terreno que deve lembrar
bastante a Suécia ou o norte do
Canadá em termos topográficos."
"A Huygens, então, provavelmente flutuará e nos trará algumas medidas muito interessantes
sobre marés ou ondas nesses locais", afirma. Essas moléculas orgânicas aparentemente interagem
de quando em quando com a
água do interior de Titã, graças ao
impacto de asteróides, por exemplo, o que faz do satélite um laboratório fantástico para entender
como (e quando) os tijolos moleculares básicos da vida surgem.
Titã pode ser interessante, mas
não dá para competir com Europa, a lua de Júpiter cujos oceanos
abrigam duas vezes mais água
que todos os seus similares combinados na Terra.
"Em alguns pontos, o gelo que
cobre esses 100 km de água pode
não ter mais que 1 km de espessura, e nós estamos verificando que
a água líquida pode chegar à superfície, como na região conhecida como Caos", diz Johnson.
A missão Jimo, da Nasa, que
ainda não tem data de lançamento, mandaria naves não-tripuladas para orbitar Europa e Ganimedes, a maior de todas as luas do
Sistema Solar. Elas examinariam
suas marés internas, mapeando a
espessura da crosta de gelo e a influência da gravidade de Júpiter e
da energia geoquímica do núcleo
dos satélites. Os pesquisadores
têm como objetivo final enviar
naves capazes de penetrar a camada de gelo e explorar as regiões
submarinas de Europa. Aí entram
tecnologias desenvolvidas na Terra, diz Peter Guirguis, da Universidade de Washington.
Guirguis é um dos participantes
do projeto Netuno, que pretende
revolucionar a compreensão dos
ecossistemas no oceano profundo
com uma rede de laboratórios
submarinos ligados por fibra óptica e operados remotamente,
com 3.200 km de comprimento,
da Colúmbia Britânica, no Canadá, à Califórnia, nos EUA.
Marcado para começar em
2006, o Netuno vai usar robôs que
mergulharão a uma profundidade de até 3 km, com câmeras e
sensores para estudar tempestades, erupções vulcânicas submarinas e plâncton (fauna e flora microscópicas do oceano).
Com essa experiência, os cientistas esperam poder criar os
equivalentes submarinos do Spirit e do Opportunity. Eles, pelo
menos, não vão ter de revirar seu
local de pouso em busca de água.
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