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Aves modernas surgiram na água, indica novo fóssil
"Science"
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Esqueleto fossilizado da ave chinesa Gansus yumenensis |
Pássaro chinês de 110 milhões de anos pode estar na origem de todo o grupo
Para cientista brasileiro,
idade do achado sugere que
espécies parecidas possam
ter habitado a chapada
do Araripe, no atual Ceará
DA REDAÇÃO
O animal esquisito e cheio de
dentes do desenho à direita,
que mais parece um cruzamento cheio de dentes de pato com
andorinha, pode ser um ancestral de todas as aves modernas.
Quem diz é um grupo de pesquisadores da China e dos Estados Unidos, que desenterrou
fósseis espetaculares do animal
em rochas de 110 milhões de
anos do noroeste chinês.
A espécie em si não é nova.
Ela já havia sido identificada na
década de 1980, com base em
um único osso, e batizada como
Gansus yumenensis -o nome é
sugestivo, mas trata-se apenas
de uma referência à Província
chinesa de Gansu, onde seus
restos foram desenterrados.
Mas os cerca de 40 fósseis do
animal em bom estado de conservação recém-descobertos
pela equipe se Hai-lu-You, da
Academia Chinesa de Geologia,
e Matt Lamanna, do Museu
Carnegie de História Natural
(Estados Unidos), permitiram
pela primeira vez um olhar detalhado sobre o Gansus. E revelam que as aves modernas, como o frango do seu almoço,
provavelmente surgiram num
ambiente aquático.
"A maioria dos ancestrais das
aves que viveram na era dos dinossauros são membros de
grupos que se extinguiram sem
deixar descendentes", afirmou
Lamanna. "Mas o Gansus levou
às aves modernas, então é um
elo entre as aves primitivas e
aquelas que vemos hoje."
Os novos fósseis do Gansus
foram achados em rochas da
chamada formação Xiagou.
Elas datam do primeiro terço
do Período Cretáceo, o último
da era dos dinossauros, encerrado há 65 milhões de anos. A
idade faz da espécie o mais antigo membro do grupo dos ornituros, que inclui todas as
aves modernas e os seus parentes extintos mais próximos.
"O Gansus é o mais antigo
exemplo das aves quase modernas que divergiram do tronco da árvore genealógica que
começa com a proto-ave Archaeopteryx", disse o americano Peter Dodson, da Universidade da Pensilvânia. Ele é co-autor do estudo que descreve
os novos fósseis, publicado na
edição de hoje do periódico
científico americano "Science"
(www.sciencemag.org)
Vários dos esqueletos da ave,
que tinha o tamanho aproximado de uma andorinha, possuíam tecidos moles preservados e até penas. Em um deles,
ainda havia impressões de pele
em volta de um dos dedos, o
que permitiu aos pesquisadores confirmar que o Gansus yumenensis era aquático.
Asas potentes
Os esqueletos indicam que o
Gansus tinha características
surpreendentemente modernas para um animal dessa idade. A principal delas eram ombro e asas bem desenvolvidos.
"Embora aquática, ela tinha um
bom vôo", disse à Folha o paleontólogo Herculano Alvarenga, do Museu de História Natural de Taubaté, especialista em
aves pré-históricas.
O pesquisador qualifica a
descoberta como "extremamente interessante", e com potenciais implicações para o
Brasil: a idade da formação na
qual o fóssil chinês foi encontrado é mais ou menos a mesma das rochas da chapada do
Araripe, no Ceará, onde já se
encontraram penas isoladas.
"Isso faz pensar na possibilidade de um bicho semelhante
por aqui", disse Alvarenga.
O paleontólogo paulista diz,
no entanto, que o fato de o
Gansus e várias outras aves do
Cretáceo serem aquáticas não
autoriza a pensar necessariamente numa origem aquática
para as aves modernas. "O
grande problema é que o ambiente aquático é mais propício
à fossilização", conta. "Ele pode
nos dar pistas falsas."
Com Associated Press
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