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55ª SBPC
Técnicos sugerem que fundos setoriais sejam distribuídos entre ministérios
Governo estuda pulverizar dinheiro para pesquisa
ANTÔNIO GOIS
RAFAEL CARIELLO
ENVIADOS ESPECIAIS A RECIFE
Técnicos do Ministério do Planejamento e do MCT (Ministério
de Ciência e Tecnologia) estão
disputando uma queda de braço
para decidir o destino das verbas
dos fundos setoriais, que foram
criados para fomentar pesquisa e
desenvolvimento em áreas específicas, como petróleo, telecomunicações e saúde.
Segundo afirmou Sérgio Rezende, presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão
vinculado ao MCT, técnicos do
Planejamento sugeriram, na elaboração da proposta do Plano
Plurianual, que as verbas destinadas à pesquisa fossem descentralizadas entre os ministérios, em vez
de ficarem concentradas na pasta
de Ciência e Tecnologia.
A afirmação foi feita ontem, no
terceiro dia da 55ª Reunião Anual
da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que
acontece até sexta-feira em Recife.
Com isso, a administração das
verbas do fundo setorial para investimento na área da saúde, por
exemplo, iria para o Ministério da
Saúde e o mesmo aconteceria
com os fundos de outras áreas.
Sem noção
"Alguns técnicos do planejamento, seguindo uma orientação
geral de concentrar atividades em
ministérios, não percebem que
realizar a atividade final é diferente de realizar a atividade de fomento. Essa proposta existe, mas
esperamos que nas próximas 48
horas tudo esteja esclarecido",
disse Rezende. "A pessoa que propôs isso não tem a menor noção
de como se faz uma política integrada de ciência e tecnologia."
De acordo com ele, ontem, o secretário-executivo da MCT, Wanderley de Souza, teria um encontro com técnicos do Planejamento para discutir o assunto. Hoje, o
ministro Roberto Amaral voltará
a Brasília (ele estava em Belo Horizonte ontem) para discutir o tema com o ministro Guido Mantega (Planejamento) e outros.
Ao saber da proposta, a diretoria da SBPC divulgou uma nota,
enviada ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, criticando a idéia.
"A dispersão dos recursos entre
vários ministérios trará, inevitavelmente, uma desarticulação dos
fundos setoriais com o sistema de
Ciência e Tecnologia, perdendo-se a capacidade de uma ação estratégica e integrada", diz a nota.
A nota pede ainda que a proposta seja mais debatida. "Tratando-se de um governo no qual a participação democrática da sociedade civil é colocada como princípio
importante, a adoção de uma medida como esta, que pode trazer
graves consequências para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país, deveria ser precedida por uma ampla discussão com
os setores envolvidos."
O presidente da Finep concorda: "Se cada ministério fosse fazer
uma política, teríamos uma descoordenação completa. Hoje, estamos trabalhando para que seja
criado um conselho diretor do
FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia), que vai integrar políticas
hoje estabelecidas por diversos
comitês gestores". O FNDCT é o
fundo que centraliza os recursos
dos fundos setoriais.
Apesar do alerta, Rezende diz
acreditar que a proposta dos técnicos do Planejamento não vá
adiante. "A sugestão ainda está no
nível técnico, longe de chegar ao
secretário-executivo do ministério, ao ministro ou às esferas mais
altas do governo."
Ele afirmou ainda que, para que
a proposta vingue, seria necessário mudar a lei que criou os fundos setoriais. Atualmente, apenas
os recursos do fundo setorial de
telecomunicações não estão vinculados ao MCT.
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