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Vacina polivalente protege contra gripe
DNA contendo código de proteína do vírus "ensinou" organismo a reagir contra diversas variedades da doença
Testes deram certo em
macacos; avanço pode
acabar com desespero
diante de novas formas
gripais todos os anos
REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO
Cientistas nos EUA criaram a primeira forma de vacinação capaz de proteger contra vários tipos de vírus da
gripe. Testes de sucesso foram feitos em camundongos,
furões e macacos, segundo
artigo na revista "Science".
Se a ideia funcionar em
humanos, "saímos do jogo
de gato e rato. Hoje produzimos vacinas contra vírus que
já circulam e fazemos monitoramento para saber se a vacina ainda funciona -com a
certeza de que uma hora ela
não vai funcionar", diz o biólogo Atila Iamarino, da USP.
A dificuldade de obter
uma vacina versátil, contra
vários tipos de gripe, vem da
proteína hemaglutinina, que
permite ao vírus grudar nas
células humanas e invadi-las.
O problema é que há pelo
menos 16 tipos de hemaglutinina. Quando o sistema de
defesa do corpo "aprende" a
se defender de uma, ainda
não sabe lidar com outras.
Hoje, as vacinas vêm de vírus cultivados em ovos e depois inativados, um processo
lento, lembra Luis Carlos de
Souza Ferreira, do Laboratório de Desenvolvimento de
Vacinas da USP.
Mas há um elemento da
hemaglutinina que muda
bem menos de vírus para vírus: o "miolo" da proteína,
que fica afundado dentro do
invasor e não interage diretamente com as células.
O líder do novo estudo,
Gary Nabel, dos Institutos
Nacionais de Saúde dos EUA,
diz que esse pode ser o calcanhar-de-aquiles da gripe.
"Na vacina normal, o miolo da proteína pode ficar escondido por outras proteínas
do vírus inteiro. Mas, com a
nossa abordagem, conseguimos apresentar a proteína inteira ao sistema de defesa do
corpo", disse ele à Folha.
Isso foi conseguido injetando o DNA com a "receita"
da proteína nas cobaias. As
células delas produziram hemaglutinina, o que estimulou o surgimento de anticorpos versáteis, capazes de agir
contra vários vírus.
Num segundo passo, vacinas tradicionais, ou uma nova injeção do "código" da
proteína, reforçaram a resposta do organismo. Deu certo: as cobaias conseguiram
enfrentar vários tipos de vírus H1N1, H2N2 e H5N1.
O desafio agora, pondera
Ferreira, é fazer a injeção de
DNA funcionar em humanos,
coisa que ainda não deu certo para outras doenças.
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