São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2010

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Vacina polivalente protege contra gripe

DNA contendo código de proteína do vírus "ensinou" organismo a reagir contra diversas variedades da doença

Testes deram certo em macacos; avanço pode acabar com desespero diante de novas formas gripais todos os anos


REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO

Cientistas nos EUA criaram a primeira forma de vacinação capaz de proteger contra vários tipos de vírus da gripe. Testes de sucesso foram feitos em camundongos, furões e macacos, segundo artigo na revista "Science".
Se a ideia funcionar em humanos, "saímos do jogo de gato e rato. Hoje produzimos vacinas contra vírus que já circulam e fazemos monitoramento para saber se a vacina ainda funciona -com a certeza de que uma hora ela não vai funcionar", diz o biólogo Atila Iamarino, da USP.
A dificuldade de obter uma vacina versátil, contra vários tipos de gripe, vem da proteína hemaglutinina, que permite ao vírus grudar nas células humanas e invadi-las.
O problema é que há pelo menos 16 tipos de hemaglutinina. Quando o sistema de defesa do corpo "aprende" a se defender de uma, ainda não sabe lidar com outras.
Hoje, as vacinas vêm de vírus cultivados em ovos e depois inativados, um processo lento, lembra Luis Carlos de Souza Ferreira, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas da USP.
Mas há um elemento da hemaglutinina que muda bem menos de vírus para vírus: o "miolo" da proteína, que fica afundado dentro do invasor e não interage diretamente com as células.
O líder do novo estudo, Gary Nabel, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, diz que esse pode ser o calcanhar-de-aquiles da gripe.
"Na vacina normal, o miolo da proteína pode ficar escondido por outras proteínas do vírus inteiro. Mas, com a nossa abordagem, conseguimos apresentar a proteína inteira ao sistema de defesa do corpo", disse ele à Folha.
Isso foi conseguido injetando o DNA com a "receita" da proteína nas cobaias. As células delas produziram hemaglutinina, o que estimulou o surgimento de anticorpos versáteis, capazes de agir contra vários vírus.
Num segundo passo, vacinas tradicionais, ou uma nova injeção do "código" da proteína, reforçaram a resposta do organismo. Deu certo: as cobaias conseguiram enfrentar vários tipos de vírus H1N1, H2N2 e H5N1.
O desafio agora, pondera Ferreira, é fazer a injeção de DNA funcionar em humanos, coisa que ainda não deu certo para outras doenças.


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