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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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POLÍTICA CIENTÍFICA

Peter Agre, ganhador em Química, dá 1ª conferência no Rio e critica restrições a estrangeiros nos EUA

Nobel elogia talento da pesquisa nacional

HENRI CARRIÈRES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Vencedor do Prêmio Nobel em Química deste ano, o norte-americano Peter Agre, 54, disse ontem no Rio que "a ciência no Brasil é maravilhosa". Segundo ele, o país tem uma jovem geração de talentos que, dentro de pouco tempo, poderá realizar importantes descobertas científicas.
"Nós [nos Estados Unidos] temos ótimos laboratórios e muitos recursos, mas acho que o recurso mais precioso são mentes brilhantes, e o Brasil tem muitas delas", disse Agre.
Para ele, é importante que haja investimentos na área científica, de modo a conter a fuga de cérebros para os países desenvolvidos. "O presidente Lula prometeu aumentar os recursos destinados à ciência brasileira. Para os cientistas brasileiros e latino-americanos, será possível trabalhar em seus próprios países", disse.
Em sua segunda visita ao Brasil -a primeira foi em 2001-, Agre pronunciou ontem, no 5º Encontro Ibero-Americano de Biofísica, sua primeira conferência desde que recebeu o Nobel. Apesar dos muitos convites, ele afirmou que preferiu vir ao Brasil para encorajar os cientistas brasileiros.
"Esta é minha primeira conferência pós-Nobel, e não quis cancelar. Eu queria ter certeza de que as pessoas no Brasil soubessem o quanto as consideramos importantes", disse ele, que hoje deixa o Rio e viaja para a Dinamarca, onde participará de um simpósio com outros ganhadores do Nobel.
Agre também fez críticas às restrições que a guerra contra o terrorismo vem causando à pesquisa científica nos EUA. Segundo ele, cientistas estrangeiros e amostras de laboratório enviadas de fora para análise não têm conseguido entrar no país.
"Eu acho que precisamos de um equilíbrio", disse ele, acrescentando que a vigilância estreita sobre laboratórios que lidam com doenças e pesquisa nuclear criou uma atmosfera de medo na comunidade científica.
"Nos EUA estamos acostumados a ajudar outros países que sofrem com opressão, mas acho que, neste momento, também temos problemas com opressão. Não quero dizer que há um enorme problema, com cientistas sendo impedidos de trabalhar. São apenas alguns casos, mas eles são muito preocupantes. Que mensagem isso transmite aos jovens cientistas? Eu me recuso a viver amedrontado", declarou.
Formado em medicina pela Universidade Johns Hopkins (em Baltimore), onde é professor, Agre conquistou o Nobel por ter descoberto, em 1991, a proteína aquaporina, responsável por regular a passagem de água através da membrana das células. A descoberta poderá contribuir para a cura de problemas renais e cardíacos, por exemplo.
Os resultados não virão tão cedo, avisa Agre. Os beneficiados serão, talvez, seus "filhos e netos".
Agre dividiu o Nobel em Química com o cientista americano Roderick MacKinnon, 47, da Universidade Rockefeller (Nova York), que também estuda o transporte de substâncias através da membrana celular.


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