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POLÍTICA CIENTÍFICA
Peter Agre, ganhador em Química, dá 1ª conferência no Rio e critica restrições a estrangeiros nos EUA
Nobel elogia talento da pesquisa nacional
HENRI CARRIÈRES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Vencedor do Prêmio Nobel em
Química deste ano, o norte-americano Peter Agre, 54, disse ontem
no Rio que "a ciência no Brasil é
maravilhosa". Segundo ele, o país
tem uma jovem geração de talentos que, dentro de pouco tempo,
poderá realizar importantes descobertas científicas.
"Nós [nos Estados Unidos] temos ótimos laboratórios e muitos
recursos, mas acho que o recurso
mais precioso são mentes brilhantes, e o Brasil tem muitas delas", disse Agre.
Para ele, é importante que haja
investimentos na área científica,
de modo a conter a fuga de cérebros para os países desenvolvidos. "O presidente Lula prometeu
aumentar os recursos destinados
à ciência brasileira. Para os cientistas brasileiros e latino-americanos, será possível trabalhar em
seus próprios países", disse.
Em sua segunda visita ao Brasil
-a primeira foi em 2001-, Agre
pronunciou ontem, no 5º Encontro Ibero-Americano de Biofísica,
sua primeira conferência desde
que recebeu o Nobel. Apesar dos
muitos convites, ele afirmou que
preferiu vir ao Brasil para encorajar os cientistas brasileiros.
"Esta é minha primeira conferência pós-Nobel, e não quis cancelar. Eu queria ter certeza de que
as pessoas no Brasil soubessem o
quanto as consideramos importantes", disse ele, que hoje deixa o
Rio e viaja para a Dinamarca, onde participará de um simpósio
com outros ganhadores do Nobel.
Agre também fez críticas às restrições que a guerra contra o terrorismo vem causando à pesquisa
científica nos EUA. Segundo ele,
cientistas estrangeiros e amostras
de laboratório enviadas de fora
para análise não têm conseguido
entrar no país.
"Eu acho que precisamos de um
equilíbrio", disse ele, acrescentando que a vigilância estreita sobre
laboratórios que lidam com
doenças e pesquisa nuclear criou
uma atmosfera de medo na comunidade científica.
"Nos EUA estamos acostumados a ajudar outros países que sofrem com opressão, mas acho
que, neste momento, também temos problemas com opressão.
Não quero dizer que há um enorme problema, com cientistas sendo impedidos de trabalhar. São
apenas alguns casos, mas eles são
muito preocupantes. Que mensagem isso transmite aos jovens
cientistas? Eu me recuso a viver
amedrontado", declarou.
Formado em medicina pela
Universidade Johns Hopkins (em
Baltimore), onde é professor,
Agre conquistou o Nobel por ter
descoberto, em 1991, a proteína
aquaporina, responsável por regular a passagem de água através
da membrana das células. A descoberta poderá contribuir para a
cura de problemas renais e cardíacos, por exemplo.
Os resultados não virão tão cedo, avisa Agre. Os beneficiados
serão, talvez, seus "filhos e netos".
Agre dividiu o Nobel em Química com o cientista americano Roderick MacKinnon, 47, da Universidade Rockefeller (Nova
York), que também estuda o
transporte de substâncias através
da membrana celular.
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