|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Com higiene precária, navios não eram para narizes delicados
DE SÃO PAULO
Se a saúde das pessoas em
terra já era ruim, nos navios
dos séculos 16 e 17 ela era ainda mais assustadora.
Esse era um dos motivos
do isolamento do Brasil durante o período colonial:
atravessar o Atlântico era
uma aventura que poucos tinham coragem de encarar.
Por um lado, ao menos os
excrementos humanos eram
atirados ao mar e não na rua.
Mas tanto a água quanto a
comida, guardadas por meses em porões úmidos e sujos, eram invariavelmente
ruins e contaminadas.
Além disso, a higiene a
bordo era precária. "Não por
acaso, dizia-se que as viagens marítimas não eram para donos de narizes delicados", afirma Cristina Gurgel.
Não existia estrutura para
que os viajantes tomassem
banho -e não se sabe se eles
estavam muito preocupados
com isso, de qualquer forma.
O padrão era usar a mesma
roupa durante todo o percurso, que durava meses.
"Quando possível, todos
se perfumavam e incensavam o ambiente, na tentativa
de controlar o mau cheiro
emanado dos corpos e da sujeira", diz Gurgel.
Surgiam, assim, pragas de
piolhos, percevejos e pulgas.
Pratos, copos e talheres não
eram lavados. Doenças como
varíola, difteria, escarlatina e
tuberculose se propagavam
sem controle.
Não bastassem os problemas de saúde que se espalhavam pelos navios, com frequência a comida acabava.
E, mesmo antes disso
acontecer, ela era bastante
regulada: a ração diária de
alimentos secos de um tripulante em uma expedição como as de Vasco da Gama ou
de Cabral era de meros 400
gramas ao dia.
Em casos extremos, até os
ratos que infestavam as embarcações viravam comida.
"A gente tem uma visão
bastante romanceada das
navegações. Pensamos "que
lindo, que heróis, que viagem ao desconhecido!" Não
era bem assim", diz Gurgel.
"Morria tanta gente que
surgiram até as lendas dos
navios fantasmas, em que
tanta gente foi morrendo que
não sobrou ninguém."
Mesmo em viagens que tiveram sucesso, muita gente
morreu. Na de Vasco da Gama às Índias, morreram 120
de um total de 160 marujos,
por exemplo.
Gurgel ressalta, porém,
que isso não era exclusividade dos portugueses. Navios
britânicos ou holandeses,
por exemplo, tinham situação parecida.
(RM)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Artrite tem 245 milhões de anos, diz estudo Índice | Comunicar Erros
|