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MEDICINA
Reforma de reator nuclear de pesquisa pode levar a substituições de importações de até US$ 1 milhão em 2004
Ipen amplia produção de produtos médicos
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O reator nuclear de pesquisa do
Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), na Cidade
Universitária, em São Paulo, está
passando por um processo de
atualização que ampliará neste
mês sua capacidade de 2 megawatts para 5 megawatts. Com o
acréscimo de potência, a instituição estima que poderá substituir
importações no valor de até US$ 1
milhão, na forma de produtos para uso médico.
"Hoje em dia, essas importações chegam a US$ 4 milhões por
ano", afirma Cláudio Rodrigues,
superintendente do Ipen. "Fizemos essa atualização do reator no
sentido de tornar possível substituir parte dessa matéria-prima."
O reator nuclear instalado no
Ipen funciona produzindo energia a partir da fissão de urânio.
Um dos subprodutos -a radiação- é usado para alterar outros
materiais, tornando-os também
radioativos. Com isso, surge a
possibilidade de obter produtos
de uso médico e hospitalar.
Um deles é o samário-135, um
elemento radioativo com importantes aplicações em pacientes
com câncer em estágio terminal.
"Ele serve para o alívio da dor em
pacientes com metástase nos casos de tumores ósseos e de mama", afirma Rodrigues.
Injetável, ele não serve como
um tratamento curativo, mas pode ampliar a qualidade de vida
durante o tempo em que o paciente sobreviver à doença. "Uma
das vantagens é que ele não exige
internação. O paciente toma e
volta para casa", diz. Trata-se de
uma alternativa à morfina defendida pela Sociedade Brasileira de
Biologia e Medicina Nuclear.
O samário não é o único produto obtido com o reator. "Temos já
30 e poucos remédios produzidos
aqui no Ipen, entre eles iodo, flúor
e assim por diante", afirma Rodrigues. "Em 2003, atendemos a 2,2
milhões de pessoas no Brasil."
Um dos produtos gerados pelo
Ipen que terão sua produção aumentada pela expansão da capacidade do reator é o molibdênio,
usado em 80% dos procedimentos de medicina nuclear no país.
A produção do Ipen é feita de
forma combinada, com dois equipamentos. Além do reator, há
também um acelerador de partículas ciclotron. "Cada equipamento produz um certo tipo de
radiação, que é adequada a determinados produtos", explica o superintendente do instituto.
Um dos objetivos futuros do
centro é não só se tornar um importante fornecedor de produtos
desse tipo para o Brasil, mas possivelmente até um exportador.
Ainda há entraves legais para que
se estabeleça uma parceria com a
iniciativa privada nesse sentido.
"Nós só não exportamos porque a atividade é regida num regime de repartição pública e é tida
como monopólio do Estado",
afirma Rodrigues. "Mas estamos
trabalhando intensamente na
busca de um modelo para a inserção no mercado externo."
O reator atualizado é capaz de
proezas que antigamente não
conseguia, como funcionar ininterruptamente por até 60 horas.
Antes ele era desligado após quatro ou cinco horas de uso.
Ainda assim, não há a perspectiva de que se possa substituir totalmente as importações nacionais.
"É um reator de pesquisa de 46
anos. Estamos falando de uma reforma do reator, mas, na verdade,
é uma reforma que nunca termina -ele precisa de manutenção e
mudanças constantes. No caso
dos produtos produzidos com o
ciclotron, podemos suprir a demanda. Mas o mesmo não ocorre
com o reator", diz Rodrigues.
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