São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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MEDICINA

Reforma de reator nuclear de pesquisa pode levar a substituições de importações de até US$ 1 milhão em 2004

Ipen amplia produção de produtos médicos

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O reator nuclear de pesquisa do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), na Cidade Universitária, em São Paulo, está passando por um processo de atualização que ampliará neste mês sua capacidade de 2 megawatts para 5 megawatts. Com o acréscimo de potência, a instituição estima que poderá substituir importações no valor de até US$ 1 milhão, na forma de produtos para uso médico.
"Hoje em dia, essas importações chegam a US$ 4 milhões por ano", afirma Cláudio Rodrigues, superintendente do Ipen. "Fizemos essa atualização do reator no sentido de tornar possível substituir parte dessa matéria-prima."
O reator nuclear instalado no Ipen funciona produzindo energia a partir da fissão de urânio. Um dos subprodutos -a radiação- é usado para alterar outros materiais, tornando-os também radioativos. Com isso, surge a possibilidade de obter produtos de uso médico e hospitalar.
Um deles é o samário-135, um elemento radioativo com importantes aplicações em pacientes com câncer em estágio terminal. "Ele serve para o alívio da dor em pacientes com metástase nos casos de tumores ósseos e de mama", afirma Rodrigues.
Injetável, ele não serve como um tratamento curativo, mas pode ampliar a qualidade de vida durante o tempo em que o paciente sobreviver à doença. "Uma das vantagens é que ele não exige internação. O paciente toma e volta para casa", diz. Trata-se de uma alternativa à morfina defendida pela Sociedade Brasileira de Biologia e Medicina Nuclear.
O samário não é o único produto obtido com o reator. "Temos já 30 e poucos remédios produzidos aqui no Ipen, entre eles iodo, flúor e assim por diante", afirma Rodrigues. "Em 2003, atendemos a 2,2 milhões de pessoas no Brasil."
Um dos produtos gerados pelo Ipen que terão sua produção aumentada pela expansão da capacidade do reator é o molibdênio, usado em 80% dos procedimentos de medicina nuclear no país.
A produção do Ipen é feita de forma combinada, com dois equipamentos. Além do reator, há também um acelerador de partículas ciclotron. "Cada equipamento produz um certo tipo de radiação, que é adequada a determinados produtos", explica o superintendente do instituto.
Um dos objetivos futuros do centro é não só se tornar um importante fornecedor de produtos desse tipo para o Brasil, mas possivelmente até um exportador. Ainda há entraves legais para que se estabeleça uma parceria com a iniciativa privada nesse sentido.
"Nós só não exportamos porque a atividade é regida num regime de repartição pública e é tida como monopólio do Estado", afirma Rodrigues. "Mas estamos trabalhando intensamente na busca de um modelo para a inserção no mercado externo."
O reator atualizado é capaz de proezas que antigamente não conseguia, como funcionar ininterruptamente por até 60 horas. Antes ele era desligado após quatro ou cinco horas de uso.
Ainda assim, não há a perspectiva de que se possa substituir totalmente as importações nacionais. "É um reator de pesquisa de 46 anos. Estamos falando de uma reforma do reator, mas, na verdade, é uma reforma que nunca termina -ele precisa de manutenção e mudanças constantes. No caso dos produtos produzidos com o ciclotron, podemos suprir a demanda. Mas o mesmo não ocorre com o reator", diz Rodrigues.


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