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Estrela emergente
Pouco famosas, vespas Nasonia acabam de ter seus genomas publicados e despontam como modelo na genética
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas são minúsculas e
letais; e o manejo bem
feito de suas populações pode evitar bilhões de dólares de
prejuízos na agricultura, além
de proteger a saúde de seres
humanos. As vespinhas do gênero Nasonia estão entre os
maiores aliados do homem no
mundo dos insetos, embora seja difícil no dia-a-dia reconhecer esses bichos, alguns com o
tamanho de uma cabeça de alfinete. Mas sua importância para
a ciência é tanta que nada menos que três espécies do gênero
tiveram seu genoma sequenciado por um consórcio internacional de mais de 150 pesquisadores, incluindo alguns
de instituições brasileiras: Nasonia vitripennis, N. giraulti, e
N. longicornis.
Começou na sexta-feira passada a publicação de artigos
científicos sobre o sequenciamento, com a sua descrição na
revista "Science" e outro na revista "PLoS Genetics". Nas
próximas semanas mais artigos
vão surgir sobre um inseto que
tem potencial de rivalizar com
as famosas moscas-das-frutas
na atenção dos geneticistas.
As Nasonia agem de modo
diabólico e, numa visão antropocêntrica, extremamente
cruel. A vespinha parasitóide
pica sua vítima -que pode ser
um ovo, uma pupa ou larva de
outro inseto- e deposita seus
ovos. A vítima continua viva e
vai sendo comida aos poucos
pelas larvinhas da vespa.
A iniciativa de sequenciar o
genoma da Nasonia foi de John
Werren, da Universidade de
Rochester, no Estado de Nova
York, e Stephen Richards, do
Baylor College of Medicine, de
Houston, no Texas.
"Existem mais de 600 mil espécies dessas incríveis criaturas, e nós devemos muito a
elas. Se não fosse pelos parasitóides e outros inimigos naturais, nós estaríamos cheios até
o joelho em insetos pragas", declarou Werren.
"Estas vespas são capazes de
parasitar várias espécies de
moscas, mas existe certa preferência por algumas espécies.
Selecionar ou criar linhagens
mais eficientes no ataque de
determinada espécie é uma das
possibilidades, mas não há pesquisa suficiente ainda para determinar os critérios de seleção
para estes programas de melhoramento genético", afirma o
brasileiro Alexandre dos Santos Cristino, da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da USP.
"De fato, o sequenciamento
do genoma é o primeiro passo
para isto, já que revela o conteúdo genético que pode ser
potencialmente modificado",
continua Cristino. O grupo do
Departamento de Biologia da
USP de Ribeirão Preto também
participou da publicação do genoma de abelha Apis mellifera,
publicado em 2006.
Além de facilitar o estudo
com as vespas e o grande potencial de aplicação na melhoria do controle de pragas agrícolas, o sequenciamento do genoma e a identificação dos genes vai facilitar estudos básicos
em genética e evolução.
Sexo determinado
Um detalhe curioso é a diferença no material genético de
machos e fêmeas. As vespas Nasonia são "haplodipóides", isto
é, os machos têm apenas um
conjunto de cromossomos (são
"haplóides"), as estruturas que
abrigam os genes; já as fêmeas
têm, assim como os seres humanos, dois conjuntos de cromossomos (são "diplóides").
Isso ocorre porque as fêmeas
saem de ovos fertilizados, enquanto machos surgem de ovos
que não o foram.
"Compreender como os organismos controlam a determinação do sexo é uma das questões mais importantes para as
ciências biológicas", afirma
Cristino. "Sabemos agora que,
para produzir um organismo
viável, não é necessário ter os
dois conjuntos de cromossomos de origem paterna e materna, basta um para ter todas
as instruções de como construir um organismo", diz ele.
Lado humano
Apesar do tamanho diminuto, as vespinhas têm um belo
genoma: 17 mil genes. A análise
revelou que 12% deles se encontram só nestas vespas e
2,4% se encontram somente
em insetos himenópteros (vespas, abelhas e formigas).
"E 40% destes genes também
são encontrados em humanos.
Esta vespa possui mais genes
em comum com humanos do
que todos os outros insetos
com genomas sequenciados até
agora", diz outro autor, Francis
Morais Franco Nunes, também
da USP de Ribeirão Preto.
A equipe de instituições brasileiras estudou um grupo de
genes essenciais para o ciclo de
vida dos insetos, que codificam
proteínas chamadas "hexamerinas", usadas como reserva de
aminoácidos para a construção
de estruturas do organismo durante a metamorfose. São genes essenciais para os insetos
atingirem o estágio adulto.
Já veneno da vespa é fundamental para ela paralisar o inseto alvo e poder depositar
ovos. Metade dos genes que codificam moléculas do veneno
das Nasonia era desconhecida
antes do sequenciamento.
Há enorme variação no modo de ação dos venenos. Segundo os pesquisadores brasileiros, ele pode agir ao parar o desenvolvimento da pupa, alterar
a fisiologia e o crescimento do
organismo, suprimir a resposta
imune, paralisar, causar morte
celular e até mesmo provocar
alterações do comportamento.
Ou seja, as vespinhas são donas
de uma farmacopeia com excelente potencial para a elaboração de novas drogas.
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