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Grupo revela geografia do vírus da gripe
Depois de surgir no sudeste da Ásia, parasita segue para Europa e América do Norte; por último, vem à América do Sul
Pesquisa contou com a colaboração da OMS e sugere que vigilância anual do influenza se concentre
no continente asiático
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
As novas cepas de vírus do tipo mais comum de gripe surgem no leste e sudeste da Ásia,
depois migram para a Europa e
América do Norte e, por fim,
chegam à América do Sul, onde
morrem. A descoberta, de pesquisadores da Universidade de
Cambridge, no Reino Unido,
sugere que os esforços de vigilância da gripe se concentrem
no continente asiático.
O resultado também pode
ajudar a aumentar a eficiência
da vacina de gripe -que todo
ano é refeita- e a tornar a evolução do vírus mais previsível.
O trabalho, publicado na revista "Science", teve a colaboração de pesquisadores da Rede
Global de Vigilância da Gripe
da OMS (Organização Mundial
da Saúde). Eles coletaram
amostras de vírus em seis continentes entre 2002 e 2007.
Colin Russell e colegas analisaram 13 mil amostras de vírus
influenza A (H3N2). Esse subtipo é o que mais adoece humanos, provocando a morte em
pessoas vulneráveis.
A OMS estima que epidemias
anuais de gripe afetem de 5% a
15% da população, causando de
3 a 5 milhões de casos graves de
doença, além de 250 mil a 500
mil mortes. A vacina da gripe
protege 300 milhões de pessoas imunizadas a cada ano.
O Ministério da Saúde afirma
que um adulto tem, em média,
dois episódios de gripe por ano.
A doença é caracterizada por
febre alta, dor muscular, dor de
garganta e tosse seca.
Os resultados do estudo revelaram que as cepas da gripe
surgem no leste e sudeste da
Ásia e somente seis ou nove
meses depois alcançam a Europa e a América do Norte. Muitos meses depois, o vírus chega
à América do Sul.
"Suspeitava-se que a Ásia
fosse a região de origem dos vírus, mas não havia nada concreto. Agora, está claro que é
uma região importante para
fiscalizar", diz Russell, pesquisador da Universidade de Cambridge (Reino Unido).
Segundo ele, o comércio e
viagens explicam a movimentação do vírus. Há menos linhas
aéreas ligando a Ásia à América
do Sul que à Europa. E, quando
o vírus chega à América do Sul,
a tendência é que desapareça,
porque o restante do mundo já
adquiriu imunidade.
De acordo com Derek Smith,
co-autor do estudo, as epidemias de gripe parecem ser impulsionadas por fatores como o
inverno ou períodos chuvosos.
Em países tropicais, o vírus
prefere a estação chuvosa. Já
nas zonas temperadas, prospera em tempo mais frio.
Promiscuidade
De acordo com o virologista
Paolo Zanotto, da USP, na Ásia
existem os mais densos aglomerados de pessoas do mundo
e há muito contato entre influenza aviária (de aves aquáticas, como patos) e de mamíferos (como porcos) com a população, o que facilita o surgimento de novas cepas de vírus.
Para o pesquisador em modelagem epidemiológica Wladimir J. Alonso, mesmo que o
foco de mudanças evolutivas
seja atualmente na Ásia, "os governos dos outros países devem
evitar a promiscuidade na criação e na comercialização de
animais vivos de aves aquáticas, suínos e frangos".
De acordo com Zanotto, os
mecanismos de controle e vigilância não assumem -nem devem assumir- que os vírus
chegam por último à América
do Sul. Ele ressalta que seria
"absurdo qualquer estratégia
governamental levar em conta
que se tem seis meses de espera
para a chegada de um tsunami
e, só então, preocupar-se em
procurar coletes salva-vidas".
O infectologista Ricardo Pio
Marins, coordenador-geral de
doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, afirma que o
resultado da pesquisa pode auxiliar o país a se preparar, na
medida em que mostra a origem e disseminação dos vírus
mais comuns. "Mas é preciso
continuar atento, principalmente em tempos de globalização e com o aumento do comércio com a Ásia." Segundo ele, o
Brasil possui 50 postos de coleta de amostras de vírus. Eles
são enviados para a OMS para
ajudar a compor a vacina.
Com Associated Press
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