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ARTIGO
José Reis e a Fapesp
JOSÉ FERNANDO PEREZ
O ARTIGO 123 DA Constituição Estadual de 1947 estabelecia que o amparo à pesquisa seria propiciado pelo Estado, por
intermédio de uma fundação.
Conquanto a inscrição desse
princípio na lei maior deva ser celebrada como um passo importante na trajetória histórica da
Fundação, longos 15 anos decorreram até que, em 23 de maio de
1962, fosse instituída por decreto
assinado pelo Governador Carvalho Pinto, a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp.
Nesses quinze anos, houve uma
intensa reflexão associada acompanhada de uma grande ansiedade pela lentidão da evolução do
processo. Em artigo na "Folha da
Noite" publicado em 13 de janeiro
de 1949, José Reis perguntava:
"Onde está a Fundação?". Esse artigo é apenas uma de toda uma série de reflexões registradas desde
1945 sobre como o Estado apoiaria a pesquisa em São Paulo.
Em 1955, José Reis sumarizou
essa reflexão em longo artigo publicado na revista Anhembi com
o título "Fundação de Amparo à
Pesquisa". Nesse texto, ao reconsiderar todo o processo histórico
ainda em curso, ele aproveita para
estabelecer o que considerava
princípios fundamentais que deveriam nortear o funcionamento
da Fundação. A começar pelo seu
Conselho Superior: "E nada de
Conselho numeroso. Seria isso
aumentar o número de pontos
fracos expostos à pressão dos grupos de interesses. Todo o segredo
está em reunir um punhado de
homens sinceros de dentro e de
fora da ciência". Assim estabelece
a lei que criou a Fundação.
"Amparo à pesquisa", para J.
Reis, é em si sinônimo de compreensão da pesquisa. A Fapesp
tem um compromisso inarredável com a sistemática de avaliação
pelos pares. Da mesma forma, recomendava que "a Fundação estabeleça como norma rígida a
prestação de contas daqueles a
quem beneficia". Todo pesquisador que recebe apoio da Fundação está contratualmente obrigado a apresentar a relatórios periódicos descrevendo os resultados
obtidos e comprovando os gastos.
Nesse mesmo artigo de 1955, a
atualidade de sua concepção de
amparo à pesquisa se destaca
quando expressa sua preocupação com a necessidade de formar
novos pesquisadores.
As sábias palavras de José Reis
-que, ironicamente, nunca exerceu nenhum cargo ou função na
Fapesp- nos fazem sentir a
grandeza do desafio de manter a
Fundação fiel aos princípios estabelecidos antes mesmo de sua
institucionalização.
José Fernando Perez, Professor do Instituto de Física da USP, é Diretor Científico da Fapesp
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