|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Terapia celular em teste pára esclerose múltipla
Grupo brasileiro salvou pacientes desenganados
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um tratamento contra esclerose múltipla desenvolvido no
Brasil, combinando quimioterapia de alta dose com transplante de células tronco, conseguiu bloquear o avanço da
doença em pacientes que não
melhoravam com tratamentos
convencionais. O novo método,
desenvolvido pela Faculdade
de Medicina da USP de Ribeirão Preto e pelo Hospital Israelita Albert Einstein, freou o
avanço do mal em 28 de 41 pacientes voluntários de testes
clínicos iniciados em 1999.
A esclerose múltipla ocorre
quando uma pessoa tem parte
da estrutura de seus nervos atacada por seu próprio sistema
imunológico, células que deveriam na verdade combate combater apenas invasores como
vírus e bactérias. A doença é caracterizada pela perda de parte
dos movimentos e sentidos, podendo levar à paralisia total.
A técnica dos brasileiros consistiu basicamente em usar quimioterapia para "desativar" a
medula óssea, que produz o
sangue e células imunológicas.
Com o sistema imune "desligado", os pacientes recebiam um
soro para apagar a "memória"
celular que marcava o tecido
nervoso como "alvo". Por fim,
eram aplicadas injeções de células-tronco retiradas previamente de seu sangue, para regenerar a medula desativada.
Segundo os médicos, em 25%
dos pacientes a degeneração
não só estagnou, como houve
também melhora. "Um pacientes que chegou no consultório e
não conseguia andar sem apoio
dos dois lados agora está normal: foi um caso impressionante", disse à Folha Nelson Hamerschlak, do Einstein, um dos
líderes do trabalho.
O objetivo principal do trabalho, porém, foi mesmo parar
a doença. Os casos em que ela
regrediu ainda são difíceis de
explicar. "O mais importante é
que as pessoas que melhoraram estão sem precisar tomar
remédios", diz Hamerschlak.
"Antes, elas eram dependentes
dos remédio, e ainda assim a
doença avançava."
Dose corrigida
Mesmo não tendo conseguido sucesso em 30% dos voluntários e registrando três mortes, o tratamento foi considerado um sucesso, já que todos os
voluntários eram de um grupo
com perspectiva praticamente
nula de melhora. Os óbitos,
além disso, ocorreram na primeira leva de testes, na qual os
médicos estavam usando uma
quimioterapia mais agressiva.
Depois de corrigir a dose, a taxa
de sucesso do tratamento permaneceu igual e os efeitos colaterais diminuíram bruscamente, sem que ninguém morresse
em função da terapia.
Os cientistas pretendem agora submeter o método a um teste que vai comparar a eficácia
da nova técnica com a dos tratamentos convencionais. A
proposta já foi submetida a comitês de ética para avaliação.
"Se conseguirmos aplicar esse procedimento numa fase
mais precoce da doença, poderíamos evitar que muitas pessoas cheguem a índices de incapacidade maiores", diz Hamerschlak, que trabalhou com
Júlio Voltarelli, da USP-Ribeirão. Ele é o cientista que anunciou em abril o sucesso de uma
terapia similar contra diabetes.
Texto Anterior: Novo clima pode travar migrações Próximo Texto: Derretimento de neve no continente equivaleu a um Estado de SP em 2005 Índice
|