São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Japão tem revés em encontro que pode abrir caça à baleia

País líder do bloco que defende a volta do abate perde a maioria almejada na Comissão Internacional da Baleia

Grupo de 70 nações se reúne no Caribe para decidir se põe fim a moratória iniciada em 1986; japoneses negam acusação de compra de voto


DA REDAÇÃO

As baleias do mundo podem esguichar sossegadas por mais um tempo. Uma reunião internacional que pode definir o retorno da caça comercial aos maiores animais da Terra começou ontem em São Cristóvão e Névis, no Caribe, sem que os países caçadores obtivessem a maioria dos votos necessária para quebrar a moratória, que já dura duas décadas.
Havia temor nos países chamados conservacionistas -bloco liderado pela Austrália e pela Nova Zelândia e que inclui também Brasil e EUA- de que o bloco caçador, liderado pelo Japão, obtivesse maioria simples na 58ª Reunião Anual da CIB (Comissão Internacional da Baleia). Os japoneses haviam conseguido angariar mais quatro votos em favor da reabertura da caça, na comissão representada por 70 nações.
Ambientalistas acusam o Japão de "comprar" votos de países pequenos do Terceiro Mundo e sem tradição baleeira, como as nações-ilhas do Caribe (entre as quais São Cristóvão, sede da reunião deste ano da CIB) para o bloco caçador.
Segundo ambientalistas e membros de delegações de países conservacionistas, a cooptação se dá por meio de ajuda financeira à pesca. (A potência asiática deu a seis países caribenhos US$ 100 milhões nesse tipo de auxílio desde 1998.) Em troca, dizem os ambientalistas, esses países aderem à CIB e apóiam as posições japonesas.
O Japão nega que a ajuda financeira seja um método de cooptação de aliados. Hoje o país captura cerca de 800 baleias por ano, num programa de "caça científica" autorizado pela CIB. Na prática, a carne vai abastecer o mercado.
O país sustenta que a captura de algumas espécies, como a baleia minke, é sustentável, dado o crescimento das populações após a moratória. O comissário japonês na CIB, Jooji Moroshita, disse que a posição dos países ocidentais é "arrogante" e que a comissão se preocupa demais com conservação.
Além do Japão, lideram o bloco baleeiro a Islândia -que também pratica "caça científica" e a Noruega, que simplesmente não aplica a moratória em suas águas e caça baleias abertamente. Somados, os três países mataram 2.500 baleias só no último ano.

Voto vencido
Neste ano, quatro países aderiram à CIB: Camboja, Guatemala, Israel e Ilhas Marshall. Isso daria ao bloco caçador, pela primeira vez desde o estabelecimento da moratória, em 1986, condições de avançar no seu encerramento.
"A tentativa era ter a maioria simples para começar a introduzir mudanças na forma de trabalho e na temática da CIB, de maneira a ir facilitando o caminho em direção à volta da caça comercial", disse à Folha José Truda Palazzo, Jr., vice-comissário do Brasil.
A principal estratégia japonesa para a reunião deste ano era instituir a votação secreta. Mas ontem à tarde a proposta foi derrotada na plenária da CIB, por 33 votos a 30.
"O Japão não conseguiu maioria simples, e dado que praticamente todos os países do bloco japonês estão aqui, duvido que isso mude até o final da reunião", disse Truda.
Também foi derrotada a proposta japonesa de deixar a proteção de pequenos cetáceos, como golfinhos e toninhas, de fora da alçada legal da CIB.
A reunião acaba na terça-feira, e até lá o equilíbrio de forças pode mudar. "Mas me parece que será uma decepção para quem investiu tanto em "consolidar votos" nos últimos tempos", afirma Truda.


Com agências internacionais

Leia mais sobre a CIB www.iwcoffice.org


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