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Japão tem revés em encontro que pode abrir caça à baleia
País líder do bloco que defende a volta do abate perde a maioria almejada na Comissão Internacional da Baleia
Grupo de 70 nações se reúne
no Caribe para decidir se põe
fim a moratória iniciada em
1986; japoneses negam
acusação de compra de voto
DA REDAÇÃO
As baleias do mundo podem
esguichar sossegadas por mais
um tempo. Uma reunião internacional que pode definir o retorno da caça comercial aos
maiores animais da Terra começou ontem em São Cristóvão e Névis, no Caribe, sem que
os países caçadores obtivessem
a maioria dos votos necessária
para quebrar a moratória, que
já dura duas décadas.
Havia temor nos países chamados conservacionistas -bloco liderado pela Austrália e pela
Nova Zelândia e que inclui
também Brasil e EUA- de que
o bloco caçador, liderado pelo
Japão, obtivesse maioria simples na 58ª Reunião Anual da
CIB (Comissão Internacional
da Baleia). Os japoneses haviam conseguido angariar mais
quatro votos em favor da reabertura da caça, na comissão
representada por 70 nações.
Ambientalistas acusam o Japão de "comprar" votos de países pequenos do Terceiro Mundo e sem tradição baleeira, como as nações-ilhas do Caribe
(entre as quais São Cristóvão,
sede da reunião deste ano da
CIB) para o bloco caçador.
Segundo ambientalistas e
membros de delegações de países conservacionistas, a cooptação se dá por meio de ajuda financeira à pesca. (A potência
asiática deu a seis países caribenhos US$ 100 milhões nesse tipo de auxílio desde 1998.) Em
troca, dizem os ambientalistas,
esses países aderem à CIB e
apóiam as posições japonesas.
O Japão nega que a ajuda financeira seja um método de
cooptação de aliados. Hoje o
país captura cerca de 800 baleias por ano, num programa de
"caça científica" autorizado pela CIB. Na prática, a carne vai
abastecer o mercado.
O país sustenta que a captura
de algumas espécies, como a
baleia minke, é sustentável, dado o crescimento das populações após a moratória. O comissário japonês na CIB, Jooji Moroshita, disse que a posição dos
países ocidentais é "arrogante"
e que a comissão se preocupa
demais com conservação.
Além do Japão, lideram o
bloco baleeiro a Islândia -que
também pratica "caça científica" e a Noruega, que simplesmente não aplica a moratória
em suas águas e caça baleias
abertamente. Somados, os três
países mataram 2.500 baleias
só no último ano.
Voto vencido
Neste ano, quatro países aderiram à CIB: Camboja, Guatemala, Israel e Ilhas Marshall.
Isso daria ao bloco caçador, pela primeira vez desde o estabelecimento da moratória, em
1986, condições de avançar no
seu encerramento.
"A tentativa era ter a maioria
simples para começar a introduzir mudanças na forma de
trabalho e na temática da CIB,
de maneira a ir facilitando o caminho em direção à volta da caça comercial", disse à Folha José Truda Palazzo, Jr., vice-comissário do Brasil.
A principal estratégia japonesa para a reunião deste ano
era instituir a votação secreta.
Mas ontem à tarde a proposta
foi derrotada na plenária da
CIB, por 33 votos a 30.
"O Japão não conseguiu
maioria simples, e dado que
praticamente todos os países
do bloco japonês estão aqui,
duvido que isso mude até o final da reunião", disse Truda.
Também foi derrotada a proposta japonesa de deixar a proteção de pequenos cetáceos,
como golfinhos e toninhas, de
fora da alçada legal da CIB.
A reunião acaba na terça-feira, e até lá o equilíbrio de forças
pode mudar. "Mas me parece
que será uma decepção para
quem investiu tanto em "consolidar votos" nos últimos tempos", afirma Truda.
Com agências internacionais
Leia mais sobre a CIB www.iwcoffice.org
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