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Pesquisa acha gene-chave para a evolução do cérebro
Trecho de DNA mais "exclusivo" dos seres humanos não codifica proteínas
Estudo identifica parte do
genoma que evoluiu mais
rápido desde a separação
entre humano e chimpanzé,
6 milhões de anos atrás
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de cientistas localizou o aquele que pode ser considerado o mais "exclusivo" dos
genes humanos. Batizado de
HAR1F, ele está envolvido no
processo de desenvolvimento
do cérebro e pode estar ligado a
diferenças físicas que resultam
em uma maior inteligência. Foi
provavelmente o trecho de
DNA do Homo sapiens que evoluiu mais rápido desde que a linhagem humana se separou da
dos chimpanzés, há mais de 6
milhões de anos.
"Temos evidência sugerindo
que ele tem relação com o desenvolvimento do córtex cerebral, e pode ser que esteja relacionado a seu tamanho final",
disse à Folha David Haussler,
da Universidade da Califórnia
em Santa Cruz (EUA), líder do
grupo que fez a descoberta. O
córtex, a camada superior do
cérebro, é a estrutura responsável pelas atividades mentais
"nobres", como consciência,
linguagem e raciocínio.
Ao comparar os genomas de
humanos com os outros animais, o grupo de Haussler descobriu que a versão humana do
HAR1F sofreu 18 alterações no
período pós-separação com o
chimpanzé. Essa marca é um
sinal claro da pressão da seleção natural sobre uma dada característica durante a evolução.
Se essas mudanças fossem
aleatórias, no mesmo período o
HAR1F deveria ter se mantido
intacto, ou no máximo sofrido
só uma alteração.
O gene recém-descrito foi o
único analisado detalhadamente pela equipe, mas em estudo publicado hoje na revista
"Nature" (www.nature.com)
Haussler aponta outras 48 regiões do genoma que tiveram
evolução acelerada. "Sabemos
que algumas delas também estão em regiões próximas a genes expressos no cérebro, mas
ainda não temos provas de que
elas estão regulando esses genes", afirma Haussler.
"O que identificamos foram
os segmentos de DNA mais
drasticamente alterados no genoma humano", diz. Segundo
ele, por enquanto os outros trechos apontados são apenas
candidatos a testes para tentar
decodificar os eventos-chave
na evolução humana.
A ligação entre o HAR1F e
desenvolvimento cerebral foi
deduzida mais diretamente
porque ele só é ativado em ocasiões e lugares muito específicos no organismo. "Ele segue
um padrão muito similar ao de
outro gene, o que produz a reelina, uma das proteínas que orquestram o desenvolvimento
do córtex cerebral entre a 7ª e a
19ª semana de desenvolvimento embrionário", diz Haussler.
"É uma etapa crucial para formação do cérebro."
O que mais parece ter surpreendido os cientistas, porém,
não foi a velocidade da evolução do HAR1F, e sim o fato de
ele não ser do tipo convencional. Em outras palavras, ele
não é usado pelas células para
produção de proteínas, as moléculas que atuam diretamente
dos mecanismos biológicos.
Haussler elucidou a estrutura do RNA (molécula prima do
DNA) produzida pelo gene,
mas ainda não descobriu o que
ela faz. "Estamos testando isso
no laboratório agora e esperamos descobrir com o que esse
RNA interage na célula", diz.
O cientista diz acreditar que
o fato de o HAR1F não produzir
uma proteína própria é consistente com a hipótese de que as
principais diferenças genéticas
entre humanos e chimpanzés
estão fora da área codificadora
de proteínas. Isso explicaria
porque, mesmo com 99% de
semelhança nos genes, humanos e símios são tão diferentes.
Para o geneticista alemão
Wolfgang Enard, especialista
em evolução humana, porém,
ainda é cedo demais para concluir que as mudanças em genes não-codificadores são mais
importantes do que as outras.
"Até agora temos poucas pistas sobre as mudanças genéticas que levaram ao características específicas dos humanos,
e não sabemos colocá-las em
ordem de importância."
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