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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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ARQUEOLOGIA

Grupo diz que marcas tinham função ritual

Chineses encontram escrita mais antiga do mundo, com 9.000 anos

Editoria de Arte/Folha Imagem


CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

O achado foi apresentado sem alarde, na edição de março de uma revista especializada em arqueologia. Mas pesquisadores da China e dos Estados Unidos descobriram o que pode ser a evidência mais antiga de escrita do mundo: inscrições chinesas que datam de 9.000 anos atrás.
Os caracteres, que guardam uma semelhança impressionante com os ideogramas chineses atuais, foram gravados em 14 fragmentos de carapaça de tartaruga descobertos no sítio de Wuyang Jiahu, Província de Henan.
A descoberta recua em pelo menos 3.000 anos o aparecimento os primeiros rudimentos da escrita, descobertos no Egito e na Mesopotâmia (atual Iraque), que datam do quarto milênio antes de Cristo. Também desafia a noção de que a escrita progrediu no mundo antigo porque tinha utilidade econômica -os caracteres de Henan parecem estar ligados a uma prática religiosa.
Daí a cautela dos pesquisadores, liderados por Xueqin Li, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, em apresentar o achado, no mês passado, na revista "Antiquity" (antiquity.ac.uk).
"Nós não interpretamos esses caracteres como sendo propriamente uma escrita, mas como parte integrante de um grande período de uso de sinais que acabou levando a um sistema escrito completo", afirmam os cientistas.
"Então, apesar de não questionarmos a primazia da Mesopotâmia na alfabetização da humanidade, sugerimos que a China, com um registro arqueológico de milênios, dá uma oportunidade única de observar os primeiros estágios evolutivos da escrita."
As carapaças foram descobertas em túmulos de pessoas que os pesquisadores acreditam terem pertencido a uma elite local. Junto com cada carapaça havia pedrinhas, lembrando oráculos chineses mais recentes, também feitos com cascos de tartaruga e pedras.
"Eles obviamente são intencionais e têm significado. Foram orientados para serem lidos, com os cascos invertidos."
Muitos dos caracteres se parecem com sinais da escrita de Yinxu (1700 a.C), considerada o primeiro sistema escrito completo produzido na China. Um deles se parecia com o número "20" dos sinais de Yinxu. Outro, com o número "8". "Não queremos dizer que o significado seja o mesmo", afirmam os pesquisadores. No entanto, observam, a associação entre as pedrinhas e os supostos numerais nos cascos pode estar relacionada à prática da numerologia ou a um rito de adivinhação.
Sinais parecidos com ideogramas de até 7.000 anos de idade já haviam sido descobertos na China, mas sua associação com a escrita havia sido rejeitada: os arqueólogos achavam que as antigas tribos chinesas tinham uma sociedade simples demais para "precisar" de um sistema escrito -que, na Mesopotâmia, sempre esteva associado ao comércio.
"Mas nossas evidências dos sepultamentos de Jiahu sugerem uma sociedade de complexidade inesperada", afirma o grupo.
Segundo eles, os sinais podem não ter relação direta com a escrita chinesa atual, mas certamente originaram "a idéia" do uso de sinais. "Afinal, os povos da Mesopotâmia levaram 5 milênios para desenvolver sua escrita."


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