São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NEUROBIOLOGIA

Enzima pode originar novo medicamento

Pesquisadores revelam composto vital para a formação de memória

MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Mais uma chave da memória foi achada. Cientistas israelenses e americanos descobriram a ligação entre uma enzima, antes conhecida simplesmente como sendo uma reparadora de DNA, e a formação da chamada memória de longa duração -necessária para o aprendizado permanente.
No futuro, prevêem os cientistas, o achado pode levar a drogas que aprimorem a memória.
Utilizando um molusco marinho do gênero Aplysia, os pesquisadores descobriram que a enzima conhecida como "poli-(ADP-ribose) polimerase 1" (PARP1, presente nos núcleos de todas as células animais) era ativada toda vez que os bichos desenvolviam memórias de longo prazo. Quando bloqueada a ação da molécula, cessava a capacidade dessas lesmas marinhas de fixar memórias.
Os moluscos, freqüentemente usados em pesquisas envolvendo memória por causa de seus neurônios avantajados, foram submetidos a um treinamento no qual eram ensinados a selecionar comida fácil de engolir. Sempre que aprendiam algo, a ativação da PARP1 era detectada em seus neurônios.
No entanto, bichos aos quais uma substância inibidora da enzima era ministrada antes do treinamento não desenvolviam a capacidade de selecionar comida.
Já se sabia que os cromossomos, embora sejam armazenados enrolados no núcleo da célula, têm de se desenrolar toda vez que uma memória é construída. Isso ocorre para que o DNA lá contido possa ser transcrito, de modo que possam ser sintetizadas proteínas que construam novas redes neurais, a base da memória. O que a enzima faz é impedir danos no DNA quando ele é desenrolado e garantir o sucesso do processo.
"É até filosófico ver que abrir o cromossomo possibilita guardar informação", diz James Schwartz, 72, da Universidade Columbia, nos EUA. Ele é um dos autores do estudo que sai hoje na "Science" (www.sciencemag.org) e envolveu também o Instituto de Pesquisa Cardíaca Neufeld e a Faculdade de Ciências da Vida, ambos de Israel. "Agora entendemos bem melhor o processo. É bem possível que um remédio saia em breve dessas descobertas."


Texto Anterior: Genética: Africanos domesticaram asno duas vezes
Próximo Texto: Panorâmica - Medicina: Substância de anêmona pode atacar leucemia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.