São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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"Vida de cientista é difícil em todo lugar"

Biólogo reclama da burocracia, mas diz que bons projetos obtêm verba

Revistas científicas ainda têm tratado com desconfiança a ciência feita nos países em desenvolvimento, diz

DE SÃO PAULO

O biólogo alemão Klaus Hartfelder, 55, se mudou da Alemanha há 28 anos. Mesmo tendo saído de um país com invejável tradição científica, diz que sua carreira não teria sido muito diferente se tivesse ficado lá. "Vida de cientista é bonita e difícil em qualquer lugar", afirma.
Se pudesse mudar alguma coisa na ciência brasileira, faria com que os alunos pudessem ingressar na graduação só por volta dos 20 anos: "Faz diferença em termos de maturidade". Além disso, diz, muitas vezes os estudantes precisam de um acompanhamento mais próximo porque não tiveram um ensino médio tão bom.
Algo que o incomoda é a desigualdade do financiamento à ciência. "Existem dois brasis: São Paulo, que tem a Fapesp, e o resto. Mas o CNPq melhorou muito desde que cheguei. Se um cientista brasileiro tem um bom projeto, consegue dinheiro."
Trabalhando com genética de abelhas, o biólogo conheceu o Brasil em 1982. Fixou-se há 12 em Ribeirão Preto (SP), onde é professor da USP. No intervalo, conheceu e se casou, em 1985, com uma brasileira, que não gosta do clima alemão.
No clima tropical do Brasil porém, é preciso enfrentar a burocracia para importar reagentes e materiais biológicos. "É desanimador."
Também o incomoda a sensação de que revistas científicas duvidam da ciência do país. Com a experiência de quem já remeteu trabalhos da Alemanha e do Brasil, diz que há preconceito.
"Não digo que os editores-chefes se importem com o país, mas funcionários da revista, em primeira análise, costumam preferir os países mais ricos." (RICARDO MIOTO)


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