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"Vida de cientista é difícil em todo lugar"
Biólogo reclama da burocracia, mas diz que bons projetos obtêm verba
Revistas científicas ainda têm tratado com desconfiança a ciência feita nos países em desenvolvimento, diz
DE SÃO PAULO
O biólogo alemão Klaus
Hartfelder, 55, se mudou da
Alemanha há 28 anos. Mesmo tendo saído de um país
com invejável tradição científica, diz que sua carreira
não teria sido muito diferente
se tivesse ficado lá. "Vida de
cientista é bonita e difícil em
qualquer lugar", afirma.
Se pudesse mudar alguma
coisa na ciência brasileira,
faria com que os alunos pudessem ingressar na graduação só por volta dos 20 anos:
"Faz diferença em termos de
maturidade". Além disso,
diz, muitas vezes os estudantes precisam de um acompanhamento mais próximo porque não tiveram um ensino
médio tão bom.
Algo que o incomoda é a
desigualdade do financiamento à ciência. "Existem
dois brasis: São Paulo, que
tem a Fapesp, e o resto. Mas o
CNPq melhorou muito desde
que cheguei. Se um cientista
brasileiro tem um bom projeto, consegue dinheiro."
Trabalhando com genética
de abelhas, o biólogo conheceu o Brasil em 1982. Fixou-se há 12 em Ribeirão Preto
(SP), onde é professor da
USP. No intervalo, conheceu
e se casou, em 1985, com
uma brasileira, que não gosta do clima alemão.
No clima tropical do Brasil
porém, é preciso enfrentar a
burocracia para importar
reagentes e materiais biológicos. "É desanimador."
Também o incomoda a
sensação de que revistas
científicas duvidam da ciência do país. Com a experiência de quem já remeteu trabalhos da Alemanha e do Brasil, diz que há preconceito.
"Não digo que os editores-chefes se importem com o
país, mas funcionários da revista, em primeira análise,
costumam preferir os países
mais ricos."
(RICARDO MIOTO)
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