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Brasil lança satélite e mira dominar sensoriamento
Inpe planeja estações para fornecer dados do CBERS a países em desenvolvimento
Terceira nave do programa
conjunto com a China parte
nesta noite; missão é vital
para o monitoramento do
desmatamento amazônico
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Ao mesmo tempo em que
prepara para esta noite o lançamento do CBERS-2B, terceiro
satélite do programa sino-brasileiro de observação da Terra,
o Brasil já planeja uma espécie
de ofensiva geopolítica espacial: quer montar seis estações
ao redor do mundo para que
países da África, do Sudeste
Asiático e da América Latina
possam receber, de graça, imagens geradas pela nave.
O plano, que já recebeu a
chancela do Itamaraty, inclui
quatro estações de recepção de
dados de satélite para a África,
uma na Indonésia ou na Austrália e uma em Roraima, segundo o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Gilberto Câmara. Hoje
só existem quatro estações aptas a receber e processar imagens do CBERS: três na China e
uma no Brasil, em Cuiabá.
O custo total da manutenção
das novas estações é calculado
em R$ 10 milhões por ano
-metade do que o país gastou
com a viagem do astronauta
Marcos Cesar Pontes para a Estação Espacial Internacional,
em 2006. Ainda não se sabe de
onde sairá o dinheiro.
O retorno esperado é que a
tecnologia nacional de sensoriamento remoto se dissemine
por esses países, e que empresas brasileiras do setor possam
ganhar "maior inserção", nas
palavras do coordenador do
Programa de Aplicações do
CBERS, José Carlos Epiphanio.
Também está na mira do Inpe a
montagem de um centro internacional de monitoramento de
florestas tropicais. Ele utilizaria essas estações como nós de
uma rede de observação, e "exportaria" metodologias brasileiras como o Prodes e o Deter,
usadas para cálculo e acompanhamento do desmatamento
da Amazônia, a outros países
com florestas. Aqui, o interesse
é político, não econômico.
Da China, na hora H
O CBERS-2B deve decolar à
0h26 desta quarta-feira (hora
de Brasília) da base de Taiyuan,
ao sul de Pequim, a bordo de
um foguete Longa Marcha 4B,
de três estágios. O satélite é
uma cópia melhorada de seu
antecessor, o CBERS-2, e dará
ao programa brasileiro de observação da Terra um respiro
mais do que necessário.
Isso porque os dois outros satélites da série CBERS (Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres) já estão um morto e
o outro, "caolho": o CBERS-1
parou de funcionar em 2003 e o
CBERS-2 perdeu suas duas câmeras auxiliares numa pane de
bateria em 2005. Esse tipo de
espaçonave geralmente tem
uma "validade" de dois anos.
Como o Landsat-5, satélite
norte-americano cujas imagens o Inpe também usa, pode
deixar de funcionar a qualquer
momento, o monitoramento
do desmatamento na Amazônia está numa situação delicada. "Há uma grande expectativa pela continuidade dos dados do CBERS", disse Epiphanio.
Por outro lado, continuou o
pesquisador, "se o CBERS-2B
operar até o lançamento do
CBERS-3, em 2009, e se o
CBERS-2 permanecer vivo por
mais um tempo, estaremos numa situação privilegiada".
O CBERS é feito para operar
numa resolução considerada
alta: cada um de seus pixels
(menores pontos na imagem)
tem 20 metros por 20 metros.
Isso faz com que suas imagens e
as do Landsat sejam ideais para
o Prodes, programa que calcula
a taxa anual de desmatamento.
A desvantagem desse olhar
mais apurado é que o tempo
que o satélite demora para sobrevoar uma mesma área duas
vezes é longo: 26 dias. Isso impede o acompanhamento imediato do desmatamento, algo
que precisa ser feito por um satélite mais "míope", o americano Modis (que, aliás, só deve
durar até 2009).
Com dois satélites em operação, aumenta o tempo de aquisição de imagens e diminui o
intervalo entre os sobrevôos.
Estratégia
O CBERS-2B também tem
uma vantagem tecnológica em
relação aos seus antecessores
que permitirá que mais países
utilizem suas imagens: ele leva
a bordo um gravador mais potente que os dos outros. "Ele
pode imagear outras partes do
globo [além da China e do Brasil], como a Europa, e descarregar depois essas imagens nas
estações de recepção chinesas
ou na brasileira.
Como a política sino-brasileira é fornecer as imagens de
graça -as de outros satélites do
gênero são pagas-, mesmo
quem não tem estações poderá
receber dados do CBERS.
Segundo Epiphanio, já há interesse "firme" da Espanha, da
Itália e da África do Sul de modificar estações de recepção de
dados de satélite para poder
"baixar" diretamente as imagens do CBERS. A espanhola
cobriria o noroeste da África, e
a italiana, o nordeste. A estação
planejada em Roraima forneceria dados para a América Central e os países amazônicos.
Mas o CBERS-2B tem ainda
outro "cliente" potencial: os
EUA, cujo programa de observação da Terra anda em crise.
"Eles estão com a corda no pescoço nessa questão do Landsat", diz Epiphanio.
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