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Africano é menos inteligente, diz Nobel
Americano James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA, dá declaração de cunho racista a jornal
Richard Carson/Reuters
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O biólogo James Watson, durante palestra em universidade |
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma entrevista do biólogo
James Watson, 79, com declarações racistas anteontem a um
jornal britânico atraiu uma enxurrada de críticas de cientistas, sociólogos, políticos e ativistas de direitos humanos.
Watson, ganhador do Prêmio
Nobel por ter descoberto a estrutura do DNA juntamente
com Francis Crick, em 1953,
afirmou ao jornal britânico
"The Sunday Times" que africanos são menos inteligentes
do que ocidentais e, em razão
disso, se declarou pessimista
em relação ao futuro da África.
"Todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de
que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de
todos os testes dizerem que
não", afirmou o cientista. "Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam
que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade."
A declaração verbal foi apenas um jeito um pouco menos
delicado de expor o que ele já
havia escrito em seu recém-lançado livro "Avoid Boring
People" (Evite Pessoas Chatas): "Não há razão firme para
crer que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas evoluam de
maneira idêntica. Nosso desejo
de considerar poderes iguais de
raciocínio como uma herança
universal da humanidade não
vai se prestar a isso."
Pessoas que apontaram erros
na declaração de Watson afirmam que a reação ao cientista
precisa ser contundente. O
cientista chegou ontem a Londres para divulgar seu livro, e já
foi recebido com críticas -teve
uma palestra cancelada no Museu de Ciência de Londres.
"Isso é Watson no nível mais
escandaloso", disse Steven Rose, fundador da Sociedade para
Responsabilidade Social em
Ciência do Reino Unido. "Ele já
havia dito coisa parecida sobre
mulheres, mas eu nunca o ouvira entrar no terreno do racismo. Se ele conhecesse literatura sobre o assunto, saberia que
está totalmente enganado cientificamente, além de socialmente e politicamente."
Dono de opiniões polêmicas,
Watson ganhou o apelido de
"Honest Jim". Em seu livro
"Genes, Girls and Gamow",
Watson se declarou favorável a
um tratamento genético para
deixar mulheres feias mais bonitas. Em outra ocasião, defendeu o direito ao aborto, se as
grávidas pudessem saber se a
criança nasceria homossexual.
Entre os cientistas que reagiram de maneira mais dura contra Watson estão os próprios
geneticistas.
"Definitivamente, isso não
faz sentido nenhum e é totalmente estapafúrdio", disse à
Folha Sérgio Danilo Pena, da
Universidade Federal de Minas
Gerais. "É uma falácia de autoridade. Ele não é especialista no
estudo de evolução de populações humanas. Ele estuda biologia molecular pura."
Pena, cujo trabalho sobre populações brasileiras contribuiu
em grande medida para derrubar o conceito biológico de raças humanas, afirma que a
maioria das pessoas "não vai levar Watson a sério", mas que
ele pode "inflamar os ânimos"
daqueles que já são racistas.
Sobre a situação da África,
Pena diz que nem sequer é uma
questão de inteligência. "O
Watson confunde uma situação histórica e social da África
com uma situação biológica",
disse. "O que acontece é que os
africanos foram vítimas de uma
colonização brutal por parte
dos europeus."
(RAFAEL GARCIA)
Com "The Independent"
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