São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Aquecimento é o maior desafio da nossa era, diz Ban

Secretário da ONU cobra resposta de governos a dados científicos sobre clima

Coreano lançou ontem síntese de relatório do IPCC sobre o clima e disse que Amazônia "está sufocando" e pode virar uma savana

DA REDAÇÃO

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, classificou ontem o aquecimento global como "o desafio que definirá nossa era" e cobrou de governos de países ricos e pobres ação imediata para minimizar suas conseqüências.
Ban lançou ontem em Valencia, Espanha, a síntese do AR4, o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, o painel do clima da ONU. O documento, de 23 páginas, resume o estado-da-arte do conhecimento humano sobre o efeito estufa.
Destinado a líderes políticos, ele deve guiar as negociações a serem iniciadas no mês que vem em Bali, Indonésia, sobre o acordo para reduzir emissões que substituirá o Protocolo de Kyoto, que vence em 2012.
Embora não traga muitas novidades científicas em relação aos três sumários executivos que o IPCC lançou ao longo deste ano, o relatório-síntese pode ser considerado um alerta mais duro. Ele admite, por exemplo, que o aquecimento acelerado traz o risco de "singularidades de grande escala".
A principal delas é o aumento do nível do mar muito além dos 59 cm esperados para 2100 em decorrência do degelo polar. "Processos dinâmicos do gelo vistos em observações recentes mas não incluídos totalmente no AR4 poderiam aumentar a taxa de perda", diz a síntese.
"Os cientistas determinaram, em uníssono, que a mudança climática é inequívoca. Agora eu preciso de respostas políticas dos líderes políticos", declarou Ban à imprensa.

Testemunha ocular
Antes, em discurso a delegados de cerca de 130 países, o coreano afirmou que pôde testemunhar nos últimos dias os efeitos da mudança climática, como o rompimento de plataformas de gelo na Antártida.
"A Amazônia, o pulmão da Terra [sic], está sufocando", afirmou. (A floresta consome quase todo o oxigênio que produz, portanto, a imagem de "pulmão" não é adequada.)
Declarou em seguida que Brasil tem se esforçado para reduzir o desmatamento e promover o manejo sustentável da floresta, mas que o governo teme que o aquecimento global já esteja minando esses esforços.
"Se as projeções mais graves se concretizarem, boa parte da Amazônia se transformará em uma savana."
"Essas cenas são tão assustadoras quanto um filme de ficção científica. Mas são ainda mais terríveis por serem reais."
Ban destacou, no entanto, que o relatório do IPCC mostra que há meios reais e economicamente viáveis de enfrentar a mudança climática, e que uma ação coordenada pode evitar o desastre.
"Nós estamos abordando a ciência de uma maneira muito objetiva. Se isso não der base para a ação política, eu não posso pensar em nada melhor", afirmou o presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri.
O relatório acrescenta impulso técnico e político à conferência de Bali, que começa daqui a duas semanas e tem o objetivo de definir o calendário de negociações do futuro regime de redução de emissões, a ser adotado em 2009.
Ban voltou a enfatizar que "não podemos nos permitir não obter um avanço real em Bali" e que "não se alcançará um acordo" se os países em desenvolvimento não se comprometerem a reduzir suas emissões.
Pelo acordo de Kyoto, somente os países industrializados, agrupados no chamado Anexo 1, têm metas obrigatórias de redução a cumprir. Acontece que nações do Terceiro Mundo, como a China, têm tido um crescimento enorme de suas emissões. O sucesso da conferência de Bali depende do papel que China e Estados Unidos desempenharão.


Com agências internacionais


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