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Para MCT, América Latina quase foi esquecida
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Como nenhum pesquisador
brasileiro participou do grupo
de 40 pessoas que redigiu o
quarto relatório síntese do
IPCC (Painel Intergovernamental da Mudança do Clima)
- da América Latina participaram apenas dois argentinos-,
representantes do governo federal tiveram de intervir para
que a região fosse lembrada, de
alguma forma, no texto final.
"A ênfase do sumário acabou
sendo muito sobre os países do
Norte, por causa dos autores,
que fizeram o texto muito sob a
perspectiva deles", disse à Folha José Miguez, coordenador
geral de Mudanças Globais de
Clima do MCT (Ministério da
Ciência e Tecnologia). Ele foi
um dos representantes brasileiros na reunião de Valencia.
Um dos problemas enfrentados na negociação do texto final, segundo Miguez, foi em relação ao desmatamento da
Amazônia. "O documento estava dando uma visão distorcida.
A questão do desmatamento
das florestas, por exemplo, estava aparecendo com o mesmo
peso que a queima dos combustíveis fósseis", por pressão
dos países petroleiros.
"Em termos de grandes setores, a área energética que queima combustíveis fósseis é a
grande vilã. Mas os países da
Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo)
sempre tentam levar o foco para outras questões, como para
o desmatamento. Mas cada vez
mais isso tem ficado mais claro", comentou.
Em uma das tabelas apresentadas no próprio documento
divulgado ontem na Espanha a
questão fica elucidada: em termos de emissões totais de gases
que contribuem para o efeito
estufa, segundo números de
2004, a queima dos combustíveis fósseis representa 56,6%
do total, enquanto desmatamento e queimadas respondem por 17,4%. Apesar da diferença, o setor florestal é a terceira maior fonte de emissões.
Se não entraram como vilãs,
as florestas tropicais brasileiras tampouco aparecem com
destaque entre as vítimas do
aquecimento. A Amazônia não
está no relatório como um dos
ecossistemas mais frágeis do
planeta. O risco de savanização
é mencionado apenas como
eventual impacto regional.
Mais destaque mereceu o semi-árido, citado especificamente como uma das regiões
do globo mais sensíveis à seca.
Com Kyoto até o fim
Miguez também delineou a
posição que o Brasil deverá
adotar na conferência de Bali: o
país é favorável ao aprofundamento do Protocolo de Kyoto,
não à adoção de metas obrigatórias de redução de emissões
em um outro acordo, que englobasse todos os países.
Para ele, o debate sobre corte
de emissões deverá acontecer
em dois "trilhos", com os países
ricos adotando metas obrigatórias mais rígidas em uma extensão do acordo atual e os países
em desenvolvimento contribuindo com reduções voluntárias, já preconizadas pela Convenção do Clima da ONU. As nações industriais devem se
opor a isso em Bali.
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