São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

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Humanos farejam em "estéreo", afirma pesquisa

Experimento sugere que senso de olfato humano é melhor do que se supunha

Resultado mostra que o cérebro compara os sinais recebidos de cada narina para obter pistas sobre a origem de um dado cheiro


Jess Porter
Trilhas de cheiro seguidas por humano (à direita) e cachorro


DA ASSOCIATED PRESS

Universitários com vendas nos olhos que rastejavam pela grama seguindo uma trilha com cheiro de chocolate deram a um grupo de cientistas americanos evidências de que seres humanos possuem um senso de olfato que os especialistas julgavam impossível até agora: farejar em estéreo.
O estudo indica que o cérebro humano compara a informação que recebe de cada uma das narinas para obter pistas sobre a origem de um determinado cheiro. E sugere que outros mamíferos fazem a mesma coisa, diferentemente do que imaginavam os cientistas.
Os humanos comparam sinais de cada uma das orelhas para localizar a fonte de um som. Mas a noção predominante era que os mamíferos não podiam fazer o mesmo com os odores, já que as narinas estão próximas demais uma da outra para captar sinais distintos. "Nós refutamos isso", disse Noam Sobel, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele e seu aluno Jess Porter publicaram seus resultados ontem na edição on-line do periódico "Nature Neuroscience".
A nova pesquisa não é a primeira a sugerir a hipótese. Em fevereiro, pesquisadores indianos afirmaram na revista "Science" que ratos têm essa capacidade. Mas Sobel e seus colegas agora "abriram as portas para que isso seja aceito completamente", disse o neurocientista Charles Wysocki, do Chemical Senses Center.
O estudo relata cinco experimentos. Mas a maior parte dele se concentra naquilo que um grupo de voluntários foi capaz de fazer na grama do campus.
No experimento, os alunos tinham de usar apenas seus narizes para seguir uma trilha em ziguezague de 9 metros na grama. A trilha foi criada com linha aromatizada com chocolate, mas os 32 participantes estavam equipados de modo a não poder ver ou sentir a linha. Dois terços dos voluntários seguiram a trilha com sucesso. Mas, ao tentarem fazer o mesmo com tampões no nariz, todos falharam.
Em um outro experimento, 14 voluntários seguiam a trilha com uma das narinas tampada e depois com as duas livres. As taxas de sucesso foram de 36% e 66%, respectivamente.
Mas o que leva a crer que o cérebro se beneficia de dois sinais? Talvez o sistema olfatório apenas funcione melhor com informações das duas narinas -o sinal olfativo fica mais forte.
Para esclarecer isso, os cientistas testaram de novo quatro voluntários, fazendo-os usar aparelhos que controlavam o fluxo de ar no nariz.
Um desses aparelhos funcionava como uma extensão do nariz normal. O outro simulava o efeito de ter apenas uma grande narina. Embora a quantidade de ar inalado fosse a mesma para ambos, os voluntários se saíam melhor quando usavam o primeiro aparelho.


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