São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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COPENHAGUE 2009

Líderes se reúnem para evitar "naufrágio"

Encontro de emergência, idealizado por Sarkozy, busca solução para a conferência do clima; pessimismo predomina

Lula fala em lutar por um acordo "possível"; EUA acenam com mais dinheiro e acusam China de "roubar processo" de negociação


Eric Feferberg/France Presse
Presidente Lula brinda com convidados em jantar oferecido pela rainha da Dinamarca ontem

MARTA SALOMON
LUCIANA COELHO
CLAUDIO ANGELO

ENVIADOS ESPECIAIS A COPENHAGUE

Os líderes mundiais convocaram uma reunião de emergência literalmente na última hora para evitar o fracasso das negociações do clima. A conferência de Copenhague termina hoje, e, às 2h desta sexta, representantes de 19 países, da ONU e da União Europeia estavam fechados em uma sala do centro de convenções que recebe o evento buscando o consenso.
A delegação brasileira, dentre outras, avalia que são grandes as chances de um "naufrágio" ou mesmo de um retrocesso em relação à diferença de tratamento entre países desenvolvidos e em desenvolvimento no corte de gases-estufa, ponto de honra para o Brasil.
"Corremos o risco de sermos fotografados como os dirigentes incompetentes para tratar do planeta quando era possível. Vai chegar o momento em que não será mais possível", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao anunciar a reunião dos líderes mundiais ao lado do colega francês Nicolas Sarkozy, autor da ideia.
"Os que quiserem um fracasso, que assumam isso", disse Sarkozy, insistindo na responsabilidade da conferência em adotar medidas que contenham o aquecimento do planeta em 2C até o final do século.
Nos bastidores, porém, diplomatas estavam longe da bravata. Um importante negociador americano falava num corredor do Bella Center que achava difícil que um acordo saísse; em sua opinião, o resultado de Copenhague seria uma "declaração robusta". À Folha, o mesmo negociador disse em seguida que a China e alguns outros países -Brasil e Índia inclusive- "roubaram o processo".
Um diplomata norueguês ecoou o pessimismo: "As pessoas estão desanimadas".
"Conversei com muita gente e ouvi mais preocupações com o fracasso do que pessoas acreditando que pudéssemos chegar a um acordo", disse Lula, descrever o que considerou pessimismo "exagerado".
A reunião de emergência começou às 23h, após jantar com a rainha Margarete 2ª. A madrugada pela frente traria temperaturas negativas. À noite, a sensação térmica no centro de Copenhague era de -13C.
O resultado será levado hoje ao plenário com os líderes dos 192 países que participam da conferência, já com a presença do presidente dos EUA, Barack Obama. A expectativa não é mais de um acordo "perfeito", mas "possível", disse Lula.
Um passo no rumo do acordo "possível" foi dado ontem pelos EUA. A secretária de Estado Hillary Clinton anunciou numa concorrida entrevista coletiva que seu país finalmente concordou em financiar o combate à mudança climática nos países pobres no médio prazo. A questão do financiamento é um dos dois grandes impasses Copenhague -o outro são as metas de corte de CO2.
Hillary anunciou que, se houver "acordo forte no qual todas as maiores economias adotem ações significativas de mitigação e transparência total quanto à sua implementação", os EUA poderiam "trabalhar para mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano em 2020 para abordar as necessidades de mudança climática" dos países pobres.
A secretária não explicou quanto os EUA estariam dispostos a bancar, nem detalhou de onde viria o dinheiro.
O anúncio foi bem recebido diante da ausência anterior de propostas de médio prazo americanas, mas em geral visto como insuficiente para quebrar o impasse. Uma delegada europeia analisa o movimento como uma tentativa dos EUA de comprar um passe livre para as ações de corte de emissão tímidas que o país vem propondo -4% em relação a 1990.
A ministra Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira, disse não saber nem como avaliar a proposta dos EUA. "Você sabe quanto eles vão pôr?", questionou Dilma, apontando problemas na proposta britânica que serve de modelo ao anúncio americano. "De 2013 até 2020 você não sabe o que acontece [com o dinheiro]."
De fato, uma assessora da delegação americana não soube responder à pergunta.
Mais cedo, Dilma anunciara que as negociações avançaram para um acordo no mecanismo do Redd (Redução de emissões por desmatamento e degradação), que poderá financiar projetos na amazônia e no cerrado. Segundo um negociador europeu, avançaram também com um fundo de adaptação e um pouco em financiamento. Mas metas ainda eram problema.


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