São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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COPENHAGUE 2009

Obama faz mudança do clima virar tema de defesa nacional

CIA abre unidade que lida com o tema, e o Pentágono deve incluir aquecimento global em seu relatório quadrienal

Presidente democrata vai a Copenhague hoje, com a intenção de destravar as negociações no dia final da conferência internacional


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Aos poucos, por incentivo do presidente Barack Obama, a questão da mudança climática vira assunto de segurança nacional nos EUA. Nas últimas semanas, a CIA anunciou discretamente a criação de uma unidade para lidar com o assunto, a primeira da agência de inteligência. No Pentágono, uma oficial confirmou que o assunto constará de relatório quadrienal a ser apresentado ao Congresso, em fevereiro.
Os dois órgãos seguem movimentos semelhantes ao da comunidade de inteligência, que em seu relatório, divulgado no meio do ano, tratava o aquecimento global como uma das ameaças à segurança do país, e ao Departamento de Estado.
Como tudo que envolve a CIA, não há muitos detalhes sobre o Centro de Mudança Climática e Segurança Nacional, que foi anunciado em um texto no site oficial e em um post na página da agência no Facebook. Mas sabe-se que a equipe americana que se encontra em Copenhague já recebe briefings da nova unidade -uma de suas funções é "dar apoio aos formadores de política norte-americanos ao negociar, implantar e checar acordos internacionais de questões ambientais".
O foco do centro é "o impacto na segurança nacional de fenômenos como desertificação, aumento do nível dos mares, migrações populacionais e a competição elevada por recursos nacionais", assim como seus efeitos "em política econômica e instabilidade social em outros países".
"Os tomadores de decisão precisam de informação e análise sobre os efeitos que a mudança climática pode ter na segurança", disse o diretor da CIA, Leon Panetta.
Caminho semelhante deve seguir a Revisão Quadrienal de Defesa de 2010, sendo preparada nesse momento pelo Pentágono. Por orientação do Congresso, hoje controlado pelos democratas, o relatório do Departamento de Defesa norte-americana levará em conta as recomendações do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), comitê ligado à ONU.
"As projeções do IPCC nos fazem acreditar que eventos climáticos graves aumentarão em intensidade no futuro, e talvez também em frequência", disse Amanda Dory, vice-secretária assistente de Defesa, em entrevista à rádio pública NPR. "Essa é uma missão em que já somos requisitados com uma frequência regular no apoio de autoridades civis, em inundações, incêndios e furacões, e acreditamos que há a possibilidade de esse tipo de pedido aumentar no futuro".
O fato de uma recomendação de um comitê da ONU influenciar decisões do Pentágono marca a guinada da Casa Branca sob Obama, um defensor da causa ambiental e do multilateralismo. Mas a mudança ordenada pelo democrata serve também a outros propósitos.
O primeiro é se distanciar de seu antecessor, o republicano George W. Bush, que passou os oito anos de seu mandato bloqueando iniciativas na área. O outro é agradar o chamado lobby verde, que lucra com as mudanças de política nessa área e é uma das bases de apoio principal do atual governo.
Obama chega hoje a Copenhague e, a exemplo do que fez em Oslo na semana passada, deve tocar de novo no assunto em seus pronunciamentos.


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