São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2008

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Economista vai presidir agência espacial

Com comando interino há oito meses, AEB lida com atraso em foguete e problemas em licitação

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A AEB (Agência Espacial Brasileira) ganhou anteontem um presidente, após oito meses sendo gerida interinamente. O novo chefe da instituição é o economista Carlos Ganem, hoje superintendente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), dono de vasta experiência em política científica, mas não na área espacial.
"Do ponto de vista da habilitação eu sou um "pato fora d'água", mas do ponto de vista da adequação eu talvez seja a pessoa certa", disse Ganem à Folha em fevereiro, quando sua nomeação ainda não tinha saído. Ontem, um dia após ser chancelado pelo presidente Lula, Ganem retificou a declaração: "A expressão usada dessa forma pode levar a um equívoco. Eu disse que era um "pato novo" porque estava entrando numa área completamente nova (...) em que eu via cenários bastante desafiadores".
Desafios não faltam. Ganem substituirá o engenheiro Miguel Henze, presidente-interino desde a saída de Sérgio Gaudenzi, que passou a dirigir a Infraero em agosto de 2007. O novo presidente da AEB não tem filiação partidária, mas já trabalhou com o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e com o ex-ministro Roberto Amaral -ambos do PSB.
Como herança de gestões anteriores, Ganem encontra atrasos no projeto VLS (Veículo Lançador de Satélites) e na construção da infra-estrutura que servirá à empresa binacional Alcântara Cyclone Space para lançar satélites desde Alcântara (MA), com foguetes ucranianos. Mesmo assim, já anuncia uma agenda. "Existe uma parcela de conquista no mercado de lançamentos que o Brasil seguramente estará pronto para fazer a partir de junho de 2010", diz.
Mesmo defendendo a parceria com a Ucrânia, Ganem diz que o VLS também tem importância estratégica. "O mercado se apresenta extremamente oportuno para nações que puderem desenvolver o "ciclo completo': o sítio de lançamento, o foguete e o satélite", diz.
O atraso no VLS se deve sobretudo ao incêndio da plataforma de lançamento em 2003 -acidente que matou 21 pessoas em Alcântara-, mas há também entraves no Tribunal de Contas da União, que tem rejeitado os editais de licitação para novas obras no local.
"Foi feita uma proposta de licitação submetida à corte do tribunal de contas e ela recebeu algumas recomendações. Foi lançada de volta sob um outro número e, de novo, recebeu recomendações de paralisação", afirma Ganem, que diz já estar prestando esclarecimentos ao TCU sobre a importância de acelerar os trabalhos. "Você há de convir que, com um projeto apreciado naquela corte paralisado por um ano e seis meses -e com uma instituição como a AEB com um presidente interino por oito meses-, não há ninguém que haverá de atribuir um grau de importância e priorização a essas atividades."
Outro desafio é resolver a equação da divisão de verbas entre um programa de desenvolvimento de satélites e outro de foguetes -poucos países já criaram tecnologia de lançadores sem ajuda orçamentária do setor militar. Ganem sugere que o VLS deve continuar tendo participação da Aeronáutica, mas com financiamento civil. "Dizer aleatoriamente que o dinheiro de um veículo lançador estaria melhor na mão de militares é um risco", diz.


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