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Economista vai presidir agência espacial
Com comando interino há oito meses, AEB lida com atraso em foguete e problemas em licitação
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A AEB (Agência Espacial
Brasileira) ganhou anteontem
um presidente, após oito meses
sendo gerida interinamente. O
novo chefe da instituição é o
economista Carlos Ganem, hoje superintendente da Finep
(Financiadora de Estudos e
Projetos), dono de vasta experiência em política científica,
mas não na área espacial.
"Do ponto de vista da habilitação eu sou um "pato fora d'água", mas do ponto de vista da
adequação eu talvez seja a pessoa certa", disse Ganem à Folha em fevereiro, quando sua
nomeação ainda não tinha saído. Ontem, um dia após ser
chancelado pelo presidente Lula, Ganem retificou a declaração: "A expressão usada dessa
forma pode levar a um equívoco. Eu disse que era um "pato
novo" porque estava entrando
numa área completamente nova (...) em que eu via cenários
bastante desafiadores".
Desafios não faltam. Ganem
substituirá o engenheiro Miguel Henze, presidente-interino desde a saída de Sérgio Gaudenzi, que passou a dirigir a Infraero em agosto de 2007. O novo presidente da AEB não tem
filiação partidária, mas já trabalhou com o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e com o ex-ministro Roberto Amaral -ambos do PSB.
Como herança de gestões anteriores, Ganem encontra atrasos no projeto VLS (Veículo
Lançador de Satélites) e na
construção da infra-estrutura
que servirá à empresa binacional Alcântara Cyclone Space
para lançar satélites desde Alcântara (MA), com foguetes
ucranianos. Mesmo assim, já
anuncia uma agenda. "Existe
uma parcela de conquista no
mercado de lançamentos que o
Brasil seguramente estará
pronto para fazer a partir de junho de 2010", diz.
Mesmo defendendo a parceria com a Ucrânia, Ganem diz
que o VLS também tem importância estratégica. "O mercado
se apresenta extremamente
oportuno para nações que puderem desenvolver o "ciclo
completo': o sítio de lançamento, o foguete e o satélite", diz.
O atraso no VLS se deve sobretudo ao incêndio da plataforma de lançamento em 2003
-acidente que matou 21 pessoas em Alcântara-, mas há
também entraves no Tribunal
de Contas da União, que tem
rejeitado os editais de licitação
para novas obras no local.
"Foi feita uma proposta de licitação submetida à corte do
tribunal de contas e ela recebeu
algumas recomendações. Foi
lançada de volta sob um outro
número e, de novo, recebeu recomendações de paralisação",
afirma Ganem, que diz já estar
prestando esclarecimentos ao
TCU sobre a importância de
acelerar os trabalhos. "Você há
de convir que, com um projeto
apreciado naquela corte paralisado por um ano e seis meses
-e com uma instituição como a
AEB com um presidente interino por oito meses-, não há
ninguém que haverá de atribuir
um grau de importância e priorização a essas atividades."
Outro desafio é resolver a
equação da divisão de verbas
entre um programa de desenvolvimento de satélites e outro
de foguetes -poucos países já
criaram tecnologia de lançadores sem ajuda orçamentária do
setor militar. Ganem sugere
que o VLS deve continuar tendo participação da Aeronáutica, mas com financiamento civil. "Dizer aleatoriamente que o
dinheiro de um veículo lançador estaria melhor na mão de
militares é um risco", diz.
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