UOL


São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Técnica ajuda a obter identidade de ossada

EVANDRO SPINELLI
DA FOLHA RIBEIRÃO

O médico Marco Aurélio Guimarães, do Cemel (Centro de Medicina Legal) e do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, desenvolveu uma técnica que possibilita a identificação de DNA até em restos arqueológicos.
A técnica inovadora para a extração do DNA de ossos e dentes foi desenvolvida pelo médico na Universidade de Sheffield, Reino Unido, durante seu pós-doutorado. A descoberta chamou a atenção inclusive da revista científica "Nature", uma das mais importantes do mundo, que publicou, neste mês, uma reportagem sobre o Cemel de Ribeirão Preto.
A técnica desenvolvida por Guimarães é uma evolução dos métodos existentes no mundo para a extração do DNA de ossos. A diferença é que o método aplica apenas uma PCR (reação em cadeia da polimerase, utilizada para multiplicar sequências de DNA que se quer estudar), enquanto nos sistemas tradicionais eram necessárias duas reações.
A mudança multiplicou a precisão do exame. Antes seria possível identificar uma pessoa em um universo de 1 bilhão. Agora, a proporção é de uma em 1 trilhão.
"Em exame de paternidade, por exemplo, dá para identificar a pessoa com um nível de confiabilidade absurdo. Antes, se havia dois irmãos muito parecidos, a gente podia dizer: "Esse pode ser o pai, mas também há uma possibilidade de ser aquele". Agora, só se forem gêmeos univitelinos para não conseguirmos definir com precisão", afirmou o médico.
A técnica funcionou em cinco ossadas de pelo menos 800 anos encontradas em sítios arqueológicos e em dentes de um cadáver da vala comum do cemitério Dom Bosco, em Perus, Grande São Paulo, usada durante o regime militar (1964-1985) para o enterro dos corpos de presos políticos.
Funcionou também em ossadas encontradas nos canaviais da região de Ribeirão Preto.
Nos restos arqueológicos foi possível identificar apenas os traços do DNA. Os dados podem ajudar a descobrir outros indícios antropológicos, como características físicas de populações inteiras e movimentos migratórios.
No caso do cemitério de Perus, as informações obtidas em apenas um dente de uma das ossadas podem servir para identificar a pessoa. Guimarães disse que falta apenas uma contraprova para ser divulgada, com precisão, a identidade da vítima.



Texto Anterior: Antropologia: DNA afasta união de sapiens e neandertal
Próximo Texto: Panorâmica - Eleição na SBPC: Debate entre candidatos acontece hoje na Folha
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.