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Crustáceo brasileiro "inventou" esperma gigante, mostra fóssil
Estratégia surgiu há pelo menos 100 milhões de anos; gameta era até 10 vezes maior que o bicho
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Graças a fósseis brasileiros,
pesquisadores europeus conseguiram datar pela primeira vez
o surgimento de uma das maiores bizarrias sexuais da história
da Terra: os espermatozoides
gigantes, que muitas vezes são
maiores que o corpo do animal
que os produziu.
Segundo o estudo, publicado
hoje no periódico "Science",
crustáceos minúsculos conhecidos como ostracodes "inventaram" esses gametas imensos
há pelo menos 100 milhões de
anos. A comprovação surge de
ostracodes fossilizados na bacia do Araripe, Ceará. O grupo
em questão, o dos Cypridopina,
tem espermatozoides com até
dez vezes o tamanho do seu
corpo, que tem 1 milímetro.
"É a incidência mais antiga
desse interessante modo de reprodução entre os animais",
afirma Renate Matzke-Karasz,
da Universidade de Munique, a
principal autora do estudo.
O grupo estudado existe até
hoje. "Eles são abundantes,
apesar de praticamente desconhecidos. Habitam quase todos
os tipos de ambiente aquático",
diz Ricardo Pinto, biólogo da
Universidade de Brasília.
Os ostracodes do Araripe são
famosos pelo grau elevado de
preservação. Esse fato permitiu
que exemplares da região fossem estudados em Grenoble,
na França, com uma nova técnica de investigação não destrutiva, a holotomografia.
Após a análise das partes internas do bicho, a surpresa: as
estruturas sexuais gigantescas,
que ocupam um terço do volume do corpo, estavam lá.
Os ostracodes não são os únicos que trilharam esse caminho
evolutivo. Drosófilas (moscas-das-frutas), aves e até primatas
desenvolveram a estratégia.
As drosófilas têm espermatozoides de 6 centímetros, apesar
de medirem só alguns milímetros. É como se o espermatozoide do homem tivesse 40 metros, calculam os cientistas.
"A grande questão agora é
por que ocorreu isso entre os
ostracodes", diz Matzke-Karasz. Afinal, investir em espermatozoides gigantes aumenta o
gasto de energia do bicho
-uma potencial desvantagem.
Via de regra, os espermatozoides são sempre muito menores do que os óvulos.
"Em drosófila, sabemos que
existe uma grande pressão da
seleção sexual aliada ao processo", diz a alemã, que estará em
julho em Brasília, num congresso sobre ostracodes.
Espécies como as drosófilas
são muito promíscuas, e espermatozoides de vários machos
competem no corpo da fêmea.
Para terem mais chance de passar seus genes adiante, esses
machos investiram em qualidade em vez de quantidade.
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