São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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TV influencia a cor dos sonhos, mostra pesquisa britânica

Geração que nasceu sem televisão colorida relata ter mais experiências oníricas em preto-e-branco, 40 anos depois

Estudo que revelou efeito, porém, não permite concluir se tela a cores faz a imagem se alterar durante o sono ou apenas deturpa a memória

Divulgação
Cena colorida de "O Mágico de Oz", filme que inicia em preto-e-branco e depois passa a ter cor

DAVID ROBSON
DA "NEW SCIENTIST"

O momento em que Dorothy desmaiou no Kansas monocromático e acordou no mundo Technicolor do Mágico de Oz pode ter sido mais importante do que jamais imaginamos. Um novo estudo revela que crianças expostas a filmes e TV em preto-e-branco são mais propensas a sonhar em tons de cinza no decorrer de suas vidas.
O debate sobre a cor dos sonhos já tem quase um século. Estudos de 1915 a 1950 sugeriam que a maioria dos sonhos era em preto-e-branco, mas a tendência mudou nos anos 1960, com alguns trabalhos sugerindo que 83% deles têm cor.
Como esse período também marcou a transição das TVs em preto-e-branco para as coloridas, uma explicação seria que a mídia estava pautando os sonhos das pessoas. As diferenças entre os estudos, porém, não permitiam conclusões sólidas.
Enquanto estudos mais recentes pediram a voluntários para preencher diários de sonhos assim que tivessem acordado, as pesquisas iniciais aplicavam questionários no meio do dia. A essa hora eles poderiam já ter se esquecido dos elementos cromáticos dos sonhos, e assumido então que eles teriam sido em escala de cinza.
Para pôr fim ao debate, a psicóloga Eva Murzyn, da Universidade de Dundee (Reino Unido), incorporou os dois métodos em um único estudo.
Primeiro, ela pediu a 60 voluntários -metade com menos de 25 anos e metade com mais de 55- para responder a questões sobre as cores de seus sonhos e sobre como era a TV em suas infâncias. Depois, eles anotaram seus sonhos num diário todas as manhãs.
Murzyn viu que não havia grandes diferenças entre os resultados extraídos dos questionários vespertinos e dos diários de sonhos matutinos. Os dois tipos de estudo eram compatíveis. Ela analisou então seus dados para descobrir se a exposição à TV em preto-e-branco na infância poderia ter efeito duradouro nos sonhos de seus voluntários, 40 anos depois.
Só 4,4% dos sonhos das pessoas menores de 25 anos eram em preto-e-branco. Os maiores de 55 anos que tinham tido acesso a TV e cinema coloridos na infância também tiveram proporção pequena de sonhos monocromáticos (7,3%). A geração antiga que tinha ficado restrita à TV em preto-e-branco na infância relatou 25% de sonhos monocromáticos.
Mesmo com apenas poucas horas por dia assistindo à TV ou a filmes, o envolvimento e a atenção emocional deles estariam elevados durante esses momentos, marcando suas mentes de forma profunda.
Contudo, Murzyn reconhece que ainda é impossível verificar se os sonhos são mesmo em preto-e-branco ou se a exposição à mídia altera de algum modo a maneira com que a mente reconstrói os sonhos assim que acordamos. Seu estudo está na revista científica "Consciousness and Cognition".


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