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Brasil quer virar líder em enterro de gás carbônico
Técnica que injeta CO2 em excesso no subsolo pode frear mudança do clima
Petrobras inicia neste ano testes na Bahia e na bacia de Campos; processo é eficiente em seqüestrar gás, mas custo é um problema
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
É quase como jogar sujeira
para debaixo do tapete. Como o
Brasil tem lugar de sobra em
seu subsolo para enterrar gás
carbônico -2 trilhões de toneladas, segundo uma estimativa-, por que não dar uma mão
para amenizar o aquecimento
global? Neste ano, a Petrobras
começa a seqüestrar carbono e
depositá-lo em áreas já usadas
para a extração de petróleo.
Há duas décadas, pelo menos, as empresas de petróleo
injetam gás carbônico (CO2)
em alguns de seus poços porque isso ajuda a retirar o restinho de combustível do subsolo.
Como o CO2 produzido pela
queima desse mesmo petróleo
virou um problemão ambiental, a prática ganhou uma nova
função. Segundo o IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, será preciso sumir com 25
bilhões de toneladas de CO2
por ano até 2050. E o enterro
de carbono pode ajudar: segundo o IPCC, a tecnologia tem o
potencial de eliminar pelo menos 21% disso nesse período.
O plano das empresas de petróleo tem várias fases. O carbono que seria emitido para a
atmosfera nas refinarias é capturado por uma chaminé. O gás então
é injetado no subsolo, onde ele
ficará guardado por milhões de
anos -segundo os técnicos.
"O Brasil, sozinho, tem capacidade para estocar o equivalente ao que o planeta emite
em 80 anos", afirma João Marcelo Ketzer, coordenador do
Cepac (Centro de Excelência
em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono) da PUC do
Rio Grande do Sul. É dele a estimativa sobre a capacidade de
armazenamento do país.
As áreas usadas para a extração de carvão mineral ou os
aqüíferos salinos (cuja água é
imprestável para o consumo)
também podem servir como
regiões de estoque. No mundo
hoje, segundo Ketzer, existe
potencial de estocar 1 trilhão
de toneladas de CO2 em reservatórios de petróleo, 10 trilhões em aqüíferos e 40 bilhões
em minas de carvão.
Porém, a logística da captura
em uma refinaria ou em uma
usina não é trivial. Uma das dúvidas é a segurança. O CO2 pode
vazar no transporte, matando
asfixiadas pessoas em volta.
(Isso aconteceu em 1986, quando 1.700 camaronenses morreram após um depósito natural
do gás vazar de um vulcão.) Ou,
o menos provável, o vazamento
do próprio reservatório -causando um problema ambiental.
"Qualquer processo pode ser
feito de forma perigosa", afirma Robert Socolow, físico e especialista em técnicas de estocagem de carbono, da Universidade de Princeton (EUA).
"O custo da tecnologia é um
dos problemas que ainda precisam ser resolvidos", diz Paulo
Cunha, do Cenpes (Centro de
Pesquisa da Petrobras). O
transporte do carbono de uma
refinaria no continente para o
reservatório -muitas vezes no
mar, a centenas ou milhares de
quilômetros de distância- pode exigir a construção de dutos,
como os usados para o transporte do gás natural.
No Brasil serão feitas, no segundo semestre, injeções em
larga escala de carbono em terra, na Bahia, e sob o mar, na bacia de Campos. A Petrobras,
afirma Cunha, espera chegar a
2014 com um armazenamento
de CO2 da ordem de 10 milhões
de toneladas por ano.
Se a meta for atingida, será
um dos maiores projetos de seqüestro geológico do mundo.
Hoje, em grande escala, existem apenas três.
O pioneiro funciona na Noruega, e é feito, sob o mar, pela
petrolífera local Statoil. No Canadá, em Weyburn, na terra
firme, é feito o estoque de carbono capturado nos EUA pela
canadense EnCana. O último
fica na Argélia e está associado
com o gás natural. Cada um seqüestra até 2 milhões de toneladas de CO2 por ano.
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