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Pressão sobre IPCC foi "zero", diz sua líder
Americana Susan Solomon nega que painel do clima tenha adotado tom alarmista em novo relatório
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A SAN FRANCISCO
A influência de governos sobre a redação do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) foi "absolutamente zero", disse ontem a chefe do grupo de cientistas responsável
pelo sumário executivo do relatório, lançado com estrondo no
último dia 2, em Paris.
Susan Solomon, da Noaa
(Agência Nacional para Oceanos e Atmosfera dos EUA)
coordenou os trabalhos do grupo 1 do painel (responsável por
avaliar certeza científica sobre
o aquecimento global).
Ontem, em sua primeira entrevista coletiva desde o lançamento do relatório, ela afirmou
que a reação da sociedade se
deve em grande parte à maior
clareza do documento.
Questionada sobre o tom
mais forte que o relatório publicado em janeiro teve em relação a sua versão anterior, de
2001, Solomon afirmou que o
texto resultante foi fruto de um
trabalho científico aprimorado
e não de uma vontade política
para elevar o tom de alarme, como muita gente tem sugerido
nas últimas semanas.
"Procuramos fazer um relatório muito cuidadoso e claro
em termos de o que nós sabemos e não sabemos", afirmou
Solomon logo após proferir
uma palestra sobre o tema na
reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que terminou
ontem em San Francisco. Para
ela, a qualidade do documento
é que deu a ele o poder transformação maior da sociedade.
"Uma das coisas que me
emocionaram muito foi quando testemunhei na Câmara dos
Representantes [do Congresso
dos EUA]", disse. "Foi formidável o número de congressistas
que me disseram: "eu era um
cético [sobre o aquecimento],
mas passei a acreditar"."
Entre o terceiro relatório de
avaliação e o quarto, uma das
principais mudanças é que a
culpa humana sobre o aquecimento global foi considerada
"muito provável", quando antes era apenas "provável.
"Uma das explicações simples sobre porque isso aconteceu é que os últimos anos foram muito quentes", diz. "Se isso se devesse a uma variação
aleatória, nós não teríamos tido
seis anos tão mais quentes que
a média, alguns dos quais batendo recordes. A natureza teve
um comportamento alterado, e
nós analisamos isso."
Chuvas contrastadas
Segundo Solomon, a grande
contribuição do quarto relatório não foi aumentar o grau de
precisão para as projeções de
aumento de temperatura, que
já tinham um grau razoável de
confiabilidade.
O passo que se galgou foi sobre as previsões da quantidade
de chuva, mais difícil de estudar. Grosso modo, o que ficou
claro é que os lugares secos vão
ficar mais secos e os lugares
úmidos vão ficar mais úmidos.
"Tivemos muita discussão
antes de redigir a declaração
sobre precipitação", disse a climatologista americana. "Nós
passamos muito tempo comparando os modelos entre si e nos
certificando de que eles concordavam uns com os outros a
um nível de 90%. O quarto relatório mostrou para a chuva o
que o primeiro relatório mostrou para a temperatura."
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