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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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Obesidade tem várias versões, conclui estudo

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há gordos e gordos, dizem cientistas nos EUA. Um estudo publicado hoje na revista "Nature" (www.nature.com) mostra que a obesidade pode não ser uma só, mas ter raízes diferentes no metabolismo celular e na composição genética de cada indivíduo.
Analisando camundongos por duas estratégias diferentes, os pesquisadores chegaram à conclusão de que há dois subtipos de roedor obeso. Embora sejam idênticos pelo lado de fora, no interior das células processos bem diferentes estão acontecendo.
O estudo foi feito confrontando uma análise do genoma dos animais obesos e da ativação (expressão) dos genes no organismo. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Analisar o genoma significa descobrir quais são os genes que aquele indivíduo possui -quais as receitas das proteínas que fazem dele o que é. Analisar a expressão dos genes significa verificar quanto cada receita é utilizada em cada organismo.
E o que eles observaram foi que há pelo menos dois padrões diferentes de presença/ativação de genes, que acabam produzindo o mesmo resultado aparente nos camundongos avantajados.
O estudo envolveu também alguma análise com amostras humanas e de milho, mas apenas para demonstrar o quanto a estratégia de atacar o problema em duas frentes serve a vários organismos diferentes. O resultado para obesidade é, por ora, válido somente para camundongos.
"Espera-se que eles encontrem padrões similares em humanos", diz Ariel Darvasi, da Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel, pesquisador convidado para comentar o estudo na "Nature". "Não exatamente os mesmos, mas certamente haverá padrões."

Milhares de genes
O estudo foi elaborado e trabalhoso: "Foi mesmo um "tour-de-force'", diz Eric Schadt, autor do estudo e cientista da Rosetta Inpharmatics, subsidiária da Merck & Co., que trabalhou em conjunto com cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles na realização da pesquisa.
"Gerar análises para 25 mil genes em humanos, camundongos e plantas foi uma tarefa enorme, exigindo especialidade significativa em desenvolvimento de algoritmos e de computação para genética estatística", diz. "Isso além de toda a experimentação."
Há um consenso de que o grande resultado da pesquisa é a demonstração de que ela é possível e funciona, muito mais do que ela diz a respeito da obesidade. "Sim, neste momento, os resultados são definitivamente mais uma prova de princípio do que pode ser feito ao combinar genética e expressão de genes", diz Schadt.
Entretanto, os resultados também dizem algo importante sobre o futuro da medicina e o entendimento de certas condições clínicas. "Acho que a mensagem a levar para casa é a de que doenças comuns como a obesidade são muito complexas, com uma diversidade de genes e caminhos e interações com o ambiente gerando diferentes formas da doença", afirma Schadt. "Não será uma única droga que conseguirá atingir todos os subtipos diferentes."


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