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BIOLOGIA
Pesquisas desvendam rejeição de pólen indesejado em vegetais com flor
Ciência revela seleção sexual em plantas
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Sua movimentação é, obviamente, limitada, bem como suas
capacidades sensoriais. Sua reprodução depende essencialmente do vento e dos insetos. É bem
verdade que as angiospermas
-as plantas com flores- não
têm muita oportunidade de escolher seus "parceiros sexuais". Mas
elas têm, sim, um mecanismo para selecionar pólen de melhor
qualidade. O processo é agora revelado em dois estudos.
A autoincompatibilidade (AI) é
conhecida como a rejeição sexual
do mundo das plantas. Nesse processo biológico, que existe em cerca de metade das angiospermas
do mundo -grupo que, por sua
vez, representa 90% das espécies
vegetais-, a planta não aceita para reprodução o pólen com o qual
ela compartilhe semelhanças genéticas. A AI seria, em outras palavras, um mecanismo antiincesto que assegura a diversificação
dos genes do vegetal.
Quando a AI acontece, o pólen
(que contém as células reprodutivas masculinas) considerado incompatível até chega ao pistilo da
flor (parte do órgão feminino),
mas tem o seu desenvolvimento
interrompido por um sinal da
planta. Muitas dúvidas ainda
existem na comunidade científica
sobre como esse sinal ocorre e
quais os genes que a controlam.
"Sabemos relativamente pouco
sobre tudo isso. Uma das coisas
que sabemos é que há diversos
mecanismos de AI no mundo das
angiospermas", diz a inglesa Vernonica Franklin-Tong, da Universidade de Birmingham. O grupo da bióloga é responsável por
um dos dois estudos publicados
hoje na revista científica "Nature"
(www.nature.com) sobre a caracterização de mecanismos de AI.
Nesse caso, a cientista revelou
que o mecanismo bioquímico da
autoincompatibilidade em flores
de papoula é a apoptose -um tipo de autodestruição celular amplamente conhecido. "A planta
reage ao pólen indesejado como
se ele fosse um organismo causador de doenças", diz. "Com essa
descoberta, creio que no futuro
poderemos controlar esse fenômeno da AI e utilizá-lo com viés
biotecnológico", diz Franklin-Tong, 43, que por si só é um
exemplo de diversidade genética:
apesar de inglesa, é filha de mãe
holandesa e pai sino-jamaicano.
Muito mais próximo de poder
controlar a AI e assim, segundo
diz, aumentar a produtividade de
milho e soja transgênicos está o
grupo de Teh-Hui Kao, na Universidade da Pensilvânia. O pesquisador taiwanês, radicado nos
EUA, descobriu um gene responsável pela autoincompatibilidade
em três variedades de pólen de
petúnia e diz poder "desligar" a
propriedade ou reativá-la nas
plantas que a tenham perdido.
Plantas como milho e soja já
perderam bastante da capacidade
de autoincompatibilidade e freqüentemente se polinizam, o que
as torna menos produtivas. Para
Kao, 53, a descoberta pode reverter a situação. "Mas há muito a fazer antes de estendermos essas
descobertas para outras plantas."
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