São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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Foguete brasileiro perde os seus experimentos no mar

Cientistas conseguiram obter resultados de alguns trabalhos via sinais de rádio

VSB-30 percorreu trajetória prevista, mas módulo de 500 mil não foi achado até a noite; testes com material biológico ficam sem resposta

Agência Espacial Brasileira
O foguete VSB-30, ontem, no momento de seu lançamento


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com oito dias de atraso, o foguete brasileiro VSB-30 foi lançado ontem às 12h13 do CLA (Centro de Lançamento de Alcântara), no Maranhão, mas os experimentos que foram levados ao espaço e retornaram à atmosfera não foram recuperados. O chamado módulo útil do foguete pousou no mar, mas os barcos e helicópteros de busca do material não conseguiram encontrá-lo até o anoitecer e o trabalho foi suspenso.
Segundo a AEB (Agência Espacial Brasileira), mesmo que a carga útil não seja recuperada, o vôo deve ser considerado um "sucesso parcial". O foguete subiu a uma altitude de 242 km e desceu em 19 minutos. Durante 6 minutos e 12 segundos foram acionados nove experimentos para investigar a ausência de gravidade, e os resultados de alguns deles foram transmitidos via telemetria (sinais de rádio).
O Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), responsável pelo desenvolvimento do foguete e pelo seu lançamento, suspendeu as buscas às 18h30, mas não informou se os trabalhos seriam retomados hoje. Existe risco de os pára-quedas que atenuam a queda da carga útil não terem se aberto.
"Durante a queda, houve oscilações no sinal de telemetria, o que dificultou a operação de resgate", afirmou comunicado do Centro de Lançamento de Alcântara. "Estudos técnicos serão feitos para se descobrir os motivos da falha dos sinais."
A bordo da carga útil estavam nove experimentos de pesquisa em áreas como biotecnologia, engenharia, física, nanotecnologia e medicina. Eram testes em mecanismos automáticos projetados por várias universidades do país, um deles em parceria com cientistas alemães.
Entre os experimentos que tiveram dados repassados por telemetria estavam os mais importantes para a análise do próprio funcionamento do foguete. Um deles, por exemplo, monitorava a dinâmica de aceleração do veículo, e outro testava o girômetro, um equipamento usado para guiar foguetes.
Dois testes relacionados a estudos de ciências térmicas, da Universidade Federal de Santa Catarina, também tiveram sucesso na transmissão de dados.
Os experimentos com material biológico, porém, só produziriam resultado se a carga útil tivesse sido resgatada. Um deles investigava o comportamento do DNA em microgravidade, e outro monitorava reações de moléculas orgânicas.

Perdida no Atlântico
O módulo da carga útil e os nove experimentos eram a parte mais cara do VSB-30, um foguete com comprimento de 12,7 metros e massa total de 2.600 kg. O vôo de ontem foi o quarto deste modelo de foguete de sondagem. Um deles foi lançado com sucesso do CLA em 2004, e dois a partir de uma base de lançamento sueca.
O VSB-30 foi desenvolvido em parceria com a DLR (Agência Espacial Alemã) e seu custo total foi de 900 mil, dos quais 500 mil correspondem à carga útil. Ela era a única parte do foguete que poderia ser reutilizada em lançamentos futuros.
A atual missão do VSB-30 começou em 26 de junho. O primeiro dia previsto para o lançamento era 11 de julho, mas o vôo foi adiado várias vezes para evitar ventos fortes que estavam soprando em grandes altitudes.
O VSB-30 é um foguete usado em missões "suborbitais" -sem capacidade de colocar carga útil em órbita ao redor do planeta- para experimentos em altitudes nas quais a gravidade da Terra é menos intensa.


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