São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Debate sobre extinção opõe teorias sobre caça predatória e mudanças climáticas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Ah, esse é um assunto espinhoso", diz o ecólogo Paulo Guimarães Jr. ao ser questionado sobre o que provocou a extinção em massa da megafauna americana. Tigres-dente-de-sabre, mastodontes, cavalos, tatus, preguiças gigantes, toxodontes (que lembram hipopótamos e rinocerontes) e macrauquênias (que parecem um cruzamento de girafa com camelo) desapareceram "da noite para o dia".
"Há aproximadamente 10 mil anos, ocorreu nas Américas uma tragédia faunística", diz o paleontólogo Bruno Kraimer, da PUC-Minas. Segundo ele, a única "unanimidade" sobre a razão disso é que a causa teve relação com alterações no clima. Para ele, a dúvida maior é sobre "quando" exatamente a mudança climática aniquilou os bichos gigantes.
Pode ter sido quando as mudanças de temperatura e de umidade fizeram o cerrado se expandir, ou quando mudanças seguintes fragmentaram o cerrado e expandiram as florestas.
A opinião de Guimarães, entretanto, é uma "unanimidade" diferente: tribos caçadoras mataram a megafauna.
"Esses animais se extinguiram no fim da última glaciação. Mas ocorreram muitas glaciações nesse período geológico. Em nenhuma delas o grau de extinção foi tão alto quanto no fim do período. A única diferença entre a última glaciação e as anteriores é a presença humana nas Américas."
Daniel Janzen, da Universidade Estadual da Pensilvânia, não têm dúvida. "O primeiro grande impacto dos humanos no Novo Mundo foi a extinção da megafauna, e não a caça dos últimos 500 anos", diz. "Isso sempre foi óbvio para ecólogos e para qualquer um que pense cinco minutos a respeito."
Para Richard Fariña, da Universidade da República, do Uruguai, se os humanos tiveram algo a ver com a extinção daqueles animais, há até mesmo "uma lição a aprender".
Mas há contra-argumentos. "Não há vestígios que corroborem essa explicação", diz Kraimer. "Achados fósseis de sinais de caça a animais de grande porte são raríssimos." Para ele que caçadores pré-históricos preferiam os mamíferos pequenos e os médios.

Dupla ameaça
Para Galetti, o mais provável é que a extinção tenha ocorrido tanto pela caça quanto pelas mudanças climáticas. "A caça teria causado um declínio acentuado nas populações dos mega-herbívoros, como acontece hoje em diversas reservas indígenas", escreve o ecólogo em artigo. "As mudanças no clima, por sua vez, fragmentaram e reduziram a distribuição desses animais a locais com baixa qualidade nutricional."
E há ainda mais uma hipótese para explicar a extinção, proposta por Jorge Ferigolo, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, de uma pandemia de vírus que teria dizimado os animais. Mas Kraimer discorda: "viroses não extinguiriam comunidades inteiras de animais de diferentes ordens."
Será, então, que há meio de os cientistas entrarem em acordo? "Nunca", diz Fariña. (IZ)


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