São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2001

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CARDOLOGIA

Estudo explica ação benéfica do vinho tinto

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe de cientistas britânicos anuncia hoje ter conseguido elucidar parte do mecanismo bioquímico que dá aos apreciadores do vinho tinto uma boa desculpa para o consumo de uma taça diária. Testes laboratoriais comprovaram que compostos derivados da casca da uva roxa inibem uma das moléculas apontadas como fator de risco para problemas nas artérias coronárias.
A pesquisa lança luz sobre a capacidade do vinho de prevenir problemas cardíacos, que já era conhecida há algum tempo, mas pouco compreendida.
Para testar a qualidade medicinal da bebida, pesquisadores expuseram células da aorta de bois a diversos tipos de vinho e mediram em cada uma das amostras o nível de endotelina-1. Essa é uma das moléculas que atuam na contração de vasos sanguíneos, aumentando o risco de infarto em pacientes com tendência à obstrução das coronárias por consumo excessivo de gordura.
"O estudo indica que os polifenóis [compostos químicos" do vinho tinto são responsáveis pelo efeito", disse à Folha o pesquisador Roger Corder, que coordenou os trabalhos no William Harvey Research Institute, ligado à Queen Mary University de Londres. "Isso provavelmente ocorre por meio da inibição de uma família de enzimas -as tirosinas cinases- que controlam a síntese da endotelina", afirma.
O estudo avaliou o efeito de 23 tipos de vinho tinto, quatro de vinho branco, um de vinho rosé e até do suco de uva roxa. Só os vinhos tintos, porém, interferiram no processo de forma significativa. Saíram-se bem, "particularmente, os vinhos de uva Cabernet Sauvignon", escreveu Corder em trabalho que publica hoje na revista científica "Nature".
Os cientistas acreditam que o estudo ajude a explicar aquilo que é conhecido entre os europeus como "paradoxo francês": por que a população da França apresenta índice menor de males cardíacos do que a britânica, se as duas têm dietas igualmente ricas em gordura? A resposta provavelmente está no consumo de vinho tinto, em contraposição ao de cerveja.
"Pretendemos agora realizar testes clínicos em humanos para confirmar esse efeito [dos polifenóis"", diz o pesquisador.



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