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COPENHAGUE 2009/ ANÁLISE
Legado será a desmobilização do público
Reagrupamento de forças para articular novo acordo será difícil em 2010; negacionismo e lobby voltam a se organizar
DO ENVIADO A COPENHAGUE
O mundo ainda está chocado
demais para conseguir avaliar o
significado histórico da última
sexta-feira em Copenhague,
quando a maior reunião de chefes de Estado já realizada foi a
pique e seus convidados fugiram dela sem nem posar para a
fotografia oficial.
Quando cair em si, a humanidade perceberá que em Copenhague o mundo não apenas
perdeu dois preciosos anos de
negociação -e ação- contra o
aquecimento global: desperdiçou também um engajamento
inédito da opinião pública, que
a partir do ano que vem pode
refluir perigosamente.
Entre 2006 e 2007, os terráqueos pareceram despertar para o fato de que o mundo está
aquecendo. A partir de então, o
ambiente virou uma das prioridades na agenda da mídia, da
sociedade e dos políticos.
A proteção ambiental decidiu a eleição de Kevin Rudd, na
Austrália, e teve um peso mais
do que marginal na de Barack
Obama, nos EUA.
Embalado por "Uma Verdade Inconveniente" e pelo Prêmio Nobel da Paz para o IPCC,
o mundo conseguiu avançar no
rumo de um tratado eficiente e
inclusivo na conferência de Bali, em 2007 -apesar de os EUA
ainda estarem sob gerência de
George W. Bush.
Pelo mundo inteiro, a consciência climática veio num
"crescendo", marcado para ter
sua apoteose em Copenhague.
Expressões alienígenas há até
poucos anos, como "partes por
milhão" e "pegada de carbono"
viraram linguagem corrente.
Manifestações pelo clima, nos
últimos meses, mobilizaram
milhões de pessoas em centenas de cidades do planeta.
E Copenhague chegou, com
uma presença de público, imprensa e líderes sem precedentes. Mas a apoteose não veio. Os
organizadores do evento pareciam saber que não viria, pois já
na terça-feira começaram a banir as ONGs do Bella Center.
A partir de quinta, o fiasco já
estava configurado: agendas
domésticas de EUA e China,
ambos presas do lobby das
energias sujas, somadas à inabilidade da presidência dinamarquesa, não deixavam espaço para as concessões necessárias à produção do acordo. O
discurso inflexível de Barack
Obama na sexta-feira, seguido
da escapada em massa dos líderes, sedimentou o anticlímax.
E, quando todos achavam que
não poderia ficar pior, a oposição dos países pobres na plenária transformou o acordo já ridículo num mero apêndice de
uma decisão regimental.
Ninguém achava realmente
que Copenhague fosse produzir a solução para o clima. Seu
feito mais importante seria
manter a mobilização política e
pública para que isso viesse a
acontecer no ano que vem.
Mas os líderes saíram do reino da Dinamarca escondidos, e
o público, de bode. Enquanto
isso, o negacionismo do aquecimento global cresce e o lobby
das indústrias sujas se reagrupam. O legado tóxico de Copenhague pode ser a desmobilização geral, que tornará extremamente difícil a obtenção de um
acordo de verdade no ano que
vem. Prepare o seu caiaque.
(CA)
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