|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERISCÓPIO
Pesquisando a causa da miopia
JOSÉ REIS
especial para a Folha
J. Wallman e colaboradores,
da Universidade da Cidade de
Nova York, publicaram na revista "Science" (237, nº 4.810)
importante artigo em que relatam experimentos feitos sobre a
miopia em pintos, que poderão
ajudar no esclarecimento fisiopatológico das ametropias.
No olho com visão normal
(emetropia), a imagem dos objetos, próximos ou distantes,
forma-se precisamente na retina. Isso quer dizer que para essa
membrana sensorial convergem os raios luminosos. Na
ametropia, assim não acontece:
a convergência dos raios se dá
antes (miopia) ou depois (hipermetropia) da retina. O míope tem dificuldade de ver de
longe; o hipermétrope, de ver de
perto. Por meio de lentes corretoras adequadas, é possível,
conforme o caso, aumentar (hipermetropia) ou diminuir
(miopia) o caminho dos raios
na câmara posterior do olho, fazendo com que eles incidam sobre a retina.
Já se sabia que, nas miopias,
ocorre aumento do comprimento ocular, o que se explicava pela ação de algum fator que
agisse globalmente sobre o olho.
Na década passada, demonstrou-se que alterações na experiência visual podem causar
miopia. Assim, animais privados da visão de formas em fases
precoces da vida ficavam míopes, e essa miopia se relacionava
com o aumento do comprimento do eixo ocular. Fenômeno semelhante se observava em
crianças que sofriam de doenças
que as privavam da visão de formas.
Partindo desses dados, Wallman e colaboradores procuraram apurar o que ocorreria se
obstruíssem apenas uma região
do campo visual. Obteriam assim uma miopia localizada?
Para atingir seu objetivo, eles
adaptaram oclusores plásticos
translúcidos sobre um dos
olhos de pintos recém-nascidos,
ficando o outro olho livre, para
controle. Dividiram os animais
em três grupos: no primeiro, fizeram oclusão total do olho; no
segundo, oclusão do campo visual temporal, o que implicava
privar da visão das formas a região nasal da retina; no terceiro,
oclusão do campo visual nasal,
privando, pois, a região temporal da retina da visão das formas.
Quando atingiram de duas a
seis semanas de idade, os pintos
foram analisados. Mediu-se a
refração em ambos os olhos ao
longo de três eixos -o óptico e
dois outros, situados a 30 graus
para cada um dos lados- temporal e nasal.
Nos casos em que toda a retina
fôra privada da visão das formas, os olhos revelaram miopia
nos três eixos medidos, ao passo
que o olho-controle se mostrava
emétrope, isto é, com refração
normal. Nos olhos em que se
provocou oclusão parcial, observou-se miopia apenas ao longo do eixo correspondente à região retiniana privada da visão
das formas. Esses olhos não se
distinguiam dos controles nos
eixos correspondentes à região
da retina que não sofrera privação.
Os investigadores passaram a
pesquisar se a miopia era associada ao aumento local do raio
da câmara posterior. Para isso,
tiveram de sacrificar os animais,
depois de medir a refração e fotografar os globos oculares. Verificaram que, nos animais totalmente privados da visão, a
câmara posterior se apresentava
toda ela alongada, ao passo que,
nos parcialmente privados, apenas estava aumentada a região
correspondente à área da retina
privada da visão das formas.
O que se pode concluir desses
experimentos é que, normalmente, a atividade retiniana é
capaz de controlar o crescimento da parede do globo ocular
que fica logo abaixo, ajustando
assim o comprimento do trajeto
óptico à manutenção da imagem em foco da retina.
Texto Anterior: Ciência: O fim das horas Próximo Texto: Futuro: Homem-bisturi Índice
|