São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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LINGUÍSTICA
Hipótese aponta base fisiológica do "idioma" dos bebês como sendo a origem de todas as línguas
Estudo identifica 4 sons universais

ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local

Preste atenção no seu bebê -ele tem muito mais a dizer do que você pode imaginar. Pesquisadores norte-americanos -com a ajuda de uma brasileira- revelaram que os primeiros balbucios dos nenês podem elucidar as primeiras palavras do homem.
Ao procurar o que determina o padrão sonoro das palavras, cientistas da Universidade do Texas chegaram a quatro combinações de consoantes e vogais que seriam comuns a todos os bebês, não importa o idioma dos pais.
Essas combinações, criadas pelo movimento da boca e da mandíbula, indicam que efeitos puramente mecânicos podem ter sido mais importantes na criação da linguagem humana do que se pensava anteriormente.
Os pesquisadores compararam esses padrões com um grupo de "primeiras palavras". Tais vocábulos primordiais, que se especula terem sido a base da língua-mãe (aquela que deu origem às demais línguas humanas), foram reconstituídos por linguistas com base nos idiomas modernos.
"Muitos linguistas acreditam que, originalmente, existiam diferentes línguas, em diferentes partes do mundo, e que elas não eram relacionadas umas com as outras", disse à Folha Barbara Davis, uma das autoras do estudo que sai hoje na revista "Science".

Mama, papa
A pesquisa começou com bebês de origem inglesa. Depois se ampliou, envolvendo crianças francesas, suecas, japonesas, equatorianas e... brasileiras.
Da observação de todos esses grupos emergiram padrões regulares. Primeiro, os bebês produzem sons formados por consoantes labiais (que surgem espontaneamente do movimento repetido da mandíbula) e vogais, tais como "mama" e "papa".
No passo seguinte, bebês tornam-se capazes de formar sílabas com consoantes mais complicadas, as coronais (quando a ponta da língua toca o céu da boca), como em "dada" e "tata". Por fim, produzem sílabas usando consoantes dorsais (feitas com a parte de trás da língua tocando a parte de trás do céu da boca), como em "gugu" (veja quadro).
O quarto padrão encontrado por Davis não estava presente nos balbucios dos bebês, mas já na formação das primeiras palavras. A tendência observada era de começar uma palavra com uma consoante labial e uma vogal seguida por uma consoante coronal, como em "pot". Essa preferência é tão forte que mesmo quando a criança queria dizer "top", por exemplo, o que saía mesmo era "pot".
Existe uma razão fisiológica que explica os padrões observados. De acordo com Barbara Davis, crianças aprendendo a falar, adultos falantes de idiomas modernos e ancestrais do homem produziriam os mesmos tipos de sons básicos graças ao movimento de abrir e fechar a mandíbula, que produz consoantes, quando fechada, e vogais, quando aberta.

Outras palavras
Ao comparar os padrões identificados nos bebês com 27 cognatos (palavras semelhantes em idiomas diferentes, que presumivelmente têm a mesma origem), os pesquisadores encontraram as mesmas preferências por combinações de consoantes e vogais.
Esse resultado complementa estudos anteriores que mostravam que os sons mais difíceis de encontrar nos bebês eram também os últimos a aparecer no processo de desenvolvimento e os mais raros nas línguas do mundo.


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