São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2007

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Grupo reintroduz peixe-boi no AM

Primeira devolução de filhotes à natureza deve ocorrer em fevereiro, ainda em caráter experimental

Espécie é vítima de caça predatória e é considerada ameaçada pelo Ibama; experiência visa criação de plano de manejo do animal

Giovana Girardi/Folha Imagem
Peixes-bois são tratados em tanque no Bosque da Ciência


GIOVANA GIRARDI
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS

Pesquisadores de Manaus estão organizando a primeira reintrodução de peixe-boi em água doce. A espécie, considerada ameaçada de extinção pelo Ibama, é alvo de caça predatória nos rios da Amazônia.
Apesar de ser ilegal, a caça do peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) ainda é bastante comum entre populações ribeirinhas, que costumam capturar os filhotes para atrair as mães para o abate. Depois simplesmente descartam as crias, que podem acabar morrendo sem amamentação -elas podem mamar até os 2 anos.
As que dão sorte vão parar no Bosque da Ciência do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), onde são tratadas até atingirem a idade adulta. Agora, pela primeira vez, alguns desses animais serão devolvidos ao seu habitat.
Após passarem pelo menos dois anos estudando o modo de vida desses animais, os pesquisadores do Inpa e da ONG IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) já estão prontos para levar os dois primeiros. Os pioneiros serão dois machos subadultos que cresceram no Bosque da Ciência e serão transferidos na estação da cheia, provavelmente em fevereiro próximo, para o rio Cuieiras.
A equipe ainda está escolhendo entre quatro animais quais participarão do projeto-piloto. A idéia é enviar os mais saudáveis e mais próximos geneticamente das famílias de peixe-boi que vivem no local.
"São preferíveis também os animais que, quando chegaram ao Inpa, já estavam começando a se alimentar de plantas na natureza. Com isso esperamos que eles tenham facilidade para procurar comida no rio", conta o oceanógrafo Leandro Lazzari Ciotti, do IPÊ.
A decisão de enviar machos foi motivada por questões reprodutivas. Enquanto uma fêmea só fica prenhe a cada dois anos, e de só um filhote por vez, um macho pode copular com várias fêmeas, fato que deve ajudar a aumentar a população de peixes-bois na natureza.
Os cientistas não sabem estimar a quantidade de animais que vivem nos rios amazônicos porque eles são solitários, tímidos e difíceis de ver.
Com a reintrodução, os pesquisadores esperam responder justamente a algumas das dúvidas que existem por causa do pouco contato com a espécie em seu habitat natural.
Os animais reinseridos levarão colares com transmissores de rádio. "Isso vai nos permitir estudar os deslocamentos nas épocas de cheia e seca, as migrações e os locais onde eles buscam preferencialmente alimentos", explica Ciotti.
O resultado das pesquisas vai subsidiar a elaboração de um plano de manejo para a conservação da espécie na região.

Predação
Os animais que chegam ao Inpa são sobreviventes de sorte. A caça, contam pesquisadores envolvidos no projeto, envolve técnicas de partir o coração de muito marmanjo.
O peixe-boi consegue ficar até 20 minutos embaixo d'água sem respirar e dificilmente é visto nessas ocasiões.
O momento de vulnerabilidade é quando o animal põe o focinho para fora d'água para respirar. Os caçadores aproveitam o momento para enfiar duas rolhas nas narinas dos peixes-bois para matá-los sufocados. "O pior é que justificavam que a carne assim fica mais macia", lamenta Ciotti.
No Inpa vive também um animal com profundas cicatrizes na parte dorsal. Ainda filhote, ele foi salvo quando estava, literalmente, torrando ao sol.

A repórter viajou a convite da WWF e da Nissan


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