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ANÁLISE
Fraudes são ponta de iceberg que se começa a enxergar
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
Acontece nas melhores famílias -de primatas e de
cientistas. Estrelas de grandes universidades, como
Harvard, não podem parar
de pedalar. Se o fazem, publicam menos, atraem menos a
atenção de jornalistas, e financiamentos fartos secam.
Marc Hauser não é o primeiro. Não será o último.
É mais comum a acusação
recair sobre uma estrela de
segunda grandeza. Foi o caso
da brasileira Theresa Imani-shi-Kari, nos anos 1980.
Depois de um estudo inovador de imunologia com o
Nobel David Baltimore, uma
estudante denunciou falhas
nos dados da brasileira. O
Congresso dos EUA e o FBI
entraram na investigação. A
sua carreira estagnou. Tempos depois, foi inocentada.
Não se comprovou malícia.
O caso é narrado num bom
livro de Daniel Kevles, "O Caso Baltimore". Havia certa
histeria no Congresso com
suposta avalanche de fraudes com verba pública na
ciência. Com o tempo, o interesse de deputados em busca
de notoriedade arrefeceu.
A ironia é que, enquanto o
assunto saía da agenda nos
EUA, fraudes provavelmente
se multiplicavam no mundo.
Essa tese está no livro "A
Grande Traição", do historiador Horace Freeland Judson.
Da fusão fria de Fleischmann e Pons (1989) aos clones humanos do sul-coreano
Woo-Suk Hwang (2005), falcatruas estão em alta.
Na quarta, esta Folha noticiou que o número anual de
denúncias de fraude científica aumentou 161% nos EUA
em 16 anos, de 86 para 217. Já
aconteceram dois congressos mundiais sobre o tema.
É a ponta de um iceberg
que se começa a enxergar, inclusive no Brasil. Houve pelo
menos dois casos rumorosos,
ambos na USP. Que mais estudantes corajosos denunciem os traidores.
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