São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Fraudes são ponta de iceberg que se começa a enxergar

MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

Acontece nas melhores famílias -de primatas e de cientistas. Estrelas de grandes universidades, como Harvard, não podem parar de pedalar. Se o fazem, publicam menos, atraem menos a atenção de jornalistas, e financiamentos fartos secam.
Marc Hauser não é o primeiro. Não será o último.
É mais comum a acusação recair sobre uma estrela de segunda grandeza. Foi o caso da brasileira Theresa Imani-shi-Kari, nos anos 1980.
Depois de um estudo inovador de imunologia com o Nobel David Baltimore, uma estudante denunciou falhas nos dados da brasileira. O Congresso dos EUA e o FBI entraram na investigação. A sua carreira estagnou. Tempos depois, foi inocentada. Não se comprovou malícia.
O caso é narrado num bom livro de Daniel Kevles, "O Caso Baltimore". Havia certa histeria no Congresso com suposta avalanche de fraudes com verba pública na ciência. Com o tempo, o interesse de deputados em busca de notoriedade arrefeceu.
A ironia é que, enquanto o assunto saía da agenda nos EUA, fraudes provavelmente se multiplicavam no mundo. Essa tese está no livro "A Grande Traição", do historiador Horace Freeland Judson.
Da fusão fria de Fleischmann e Pons (1989) aos clones humanos do sul-coreano Woo-Suk Hwang (2005), falcatruas estão em alta.
Na quarta, esta Folha noticiou que o número anual de denúncias de fraude científica aumentou 161% nos EUA em 16 anos, de 86 para 217. Já aconteceram dois congressos mundiais sobre o tema.
É a ponta de um iceberg que se começa a enxergar, inclusive no Brasil. Houve pelo menos dois casos rumorosos, ambos na USP. Que mais estudantes corajosos denunciem os traidores.


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