São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Índice

MEDICINA

Ciclo pode ter implicações para doença no Brasil

Dengue tem picos a cada 3 anos na Tailândia, diz pesquisa americana

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se o Brasil quiser escapar de epidemias ainda mais violentas de dengue do que os 768 mil casos de 2002, talvez seja bom ficar de olho no que acontece na remota Tailândia. Nesse país do Sudeste Asiático, pesquisadores americanos conseguiram estabelecer quando, de onde e em que ritmo se propagam os casos da doença e, em especial, os de sua versão mais letal, a dengue hemorrágica.
Ali, de acordo com o estudo que sai hoje na revista "Nature" (www.nature.com), a dengue hemorrágica atinge picos de três em três anos, em ondas que se propagam para todas as direções a partir de Bancoc, a capital tailandesa, com seus 6 milhões de habitantes. "É possível que essa dinâmica se repita no Rio de Janeiro, por exemplo, embora muitos outros fatores estejam envolvidos", diz o epidemiologista Derek Cummings, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Ao lado de colegas nos EUA e na Tailândia, Cummings analisou dados sobre mais de 850 mil casos de dengue no país entre 1983 e 1997. A situação tailandesa é ainda mais complicada que a brasileira porque o país tem todos os quatro subtipos do vírus que causa a doença -aqui só existem três. Se alguém é infectado por um dos subtipos e se cura, fica imune apenas a ele. Isso quer dizer que pode pegar dengue de novo, com uma chance maior de que a doença seja hemorrágica.
Ao analisar estatisticamente os dados, a equipe notou que quase todas as províncias do país seguiam o ritmo a cada três anos, mas com atraso de até oito meses em relação a Bancoc. A onda de infecções se espalhava dali num ritmo de 148 km por mês.
Para o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o trabalho pode ajudar a direcionar os recursos de prevenção da dengue e de combate à doença de forma mais inteligente, levando em conta o ciclo natural da epidemia.
"Os adensamentos populacionais são importantes porque eles criam o que a gente poderia chamar de uma biomagnificação, ou amplificação, das infecções. O que importa é quantas pessoas um infectado infecta", diz. Numa grande cidade, com as pessoas mais próximas umas das outras, é maior a chance de o mosquito picar um infectado e, em seguida, passar o vírus para outra pessoa.
"É meio complicado usar exatamente as mesmas medidas para o Brasil, porque essas coisas são muito espaço-específicas [dependem das condições locais], mas é possível usar as mesmas ferramentas conceituais para entender o que ocorre aqui", diz Zanotto.


Texto Anterior: Marte: Análise de solo surpreende os cientistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.