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MEDICINA
Ciclo pode ter implicações para doença no Brasil
Dengue tem picos a cada 3 anos na Tailândia, diz pesquisa americana
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se o Brasil quiser escapar de epidemias ainda mais violentas de
dengue do que os 768 mil casos de
2002, talvez seja bom ficar de olho
no que acontece na remota Tailândia. Nesse país do Sudeste
Asiático, pesquisadores americanos conseguiram estabelecer
quando, de onde e em que ritmo
se propagam os casos da doença
e, em especial, os de sua versão
mais letal, a dengue hemorrágica.
Ali, de acordo com o estudo que
sai hoje na revista "Nature"
(www.nature.com), a dengue hemorrágica atinge picos de três em
três anos, em ondas que se propagam para todas as direções a partir de Bancoc, a capital tailandesa,
com seus 6 milhões de habitantes.
"É possível que essa dinâmica se
repita no Rio de Janeiro, por
exemplo, embora muitos outros
fatores estejam envolvidos", diz o
epidemiologista Derek Cummings, da Universidade Johns
Hopkins, nos Estados Unidos.
Ao lado de colegas nos EUA e na
Tailândia, Cummings analisou
dados sobre mais de 850 mil casos
de dengue no país entre 1983 e
1997. A situação tailandesa é ainda mais complicada que a brasileira porque o país tem todos os
quatro subtipos do vírus que causa a doença -aqui só existem
três. Se alguém é infectado por
um dos subtipos e se cura, fica
imune apenas a ele. Isso quer dizer que pode pegar dengue de novo, com uma chance maior de que
a doença seja hemorrágica.
Ao analisar estatisticamente os
dados, a equipe notou que quase
todas as províncias do país seguiam o ritmo a cada três anos,
mas com atraso de até oito meses
em relação a Bancoc. A onda de
infecções se espalhava dali num
ritmo de 148 km por mês.
Para o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o trabalho pode
ajudar a direcionar os recursos de
prevenção da dengue e de combate à doença de forma mais inteligente, levando em conta o ciclo
natural da epidemia.
"Os adensamentos populacionais são importantes porque eles
criam o que a gente poderia chamar de uma biomagnificação, ou
amplificação, das infecções. O que
importa é quantas pessoas um infectado infecta", diz. Numa grande cidade, com as pessoas mais
próximas umas das outras, é
maior a chance de o mosquito picar um infectado e, em seguida,
passar o vírus para outra pessoa.
"É meio complicado usar exatamente as mesmas medidas para o
Brasil, porque essas coisas são
muito espaço-específicas [dependem das condições locais], mas é
possível usar as mesmas ferramentas conceituais para entender
o que ocorre aqui", diz Zanotto.
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