São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2001 |
Próximo Texto | Índice
BIOTECNOLOGIA Experimento da Embrapa usou célula de embrião para produzir "cópia" de bezerro sem fecundação natural Nasce o primeiro clone animal brasileiro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Vitória, uma bezerra da raça simental, é o primeiro animal clonado no Brasil. O animal, que nasceu no último final de semana, é resultado de pesquisas na área de reprodução desenvolvidas pela Embrapa desde 1984. O processo de clonagem de Vitória foi semelhante ao da ovelha Dolly, produzida em 1997 pela empresa PPL Therapeutics, na Escócia. A diferença entre os dois animais é a origem da célula doadora do núcleo (onde fica o material genético; veja quadro à esq.). As células que deram origem à ovelha escocesa foram obtidas de glândulas mamárias de uma fêmea adulta, enquanto as células que originaram Vitória foram obtidas de um embrião de cinco dias. Ou seja, Vitória é um clone de uma vaca virtual, que não chegou a nascer. O animal nasceu perfeito, o que deixou os técnicos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) confiantes quanto à continuidade da utilização da técnica. Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil é o primeiro país em desenvolvimento a dominar a tecnologia da clonagem. De acordo com Rodolfo Rumpf, coordenador do projeto de biotecnologia de reprodução animal da Embrapa, essa primeira etapa -o nascimento de Vitória- é um passo anterior à Dolly, mas que abriu caminho. "Vamos avançar para trabalhar com células somáticas (não-reprodutivas) diferenciadas e realizar uma clonagem semelhante à de Dolly." O bezerro é um clone de uma célula de embrião, que ainda não passou por todos os estágios de diferenciação celular. Já Dolly é um clone de uma célula de um animal adulto, já diferenciada. Vitória é resultado de núcleos transferidos de um embrião de cinco dias de uma vaca da raça simental pela técnica de transferência de embriões clássica. Nelore e simental Foram utilizados ovócitos (óvulos imaturos) retirados de vacas mestiças das raças nelore e simental. De 29 tentativas, só uma deu certo. Segundo a Embrapa, gestação e parto foram normais. Segundo Rumpf, já está em gestação na fazenda Sucupira, em Brasília, a mesma onde nasceu Vitória, um bezerro clonado a partir de células da orelha de uma vaca. Caso tudo ocorra bem, em nove meses o Brasil terá um clone obtido por técnica mais semelhante à de Dolly. "É uma tentativa, que pode dar certo ou não. Com a Dolly foram várias tentativas até dar certo." Precisamente, 277 embriões para uma única ovelha. Nos últimos três anos foram investidos R$ 300 mil no projeto de reprodução animal da Embrapa. Os resultados práticos da clonagem, pretendidos pela Embrapa, serão a regeneração de bancos genéticos, a multiplicação de animais com boas características genéticas, a maximização do potencial genético de uma raça, resgate de material genético em vias de extinção e melhoramento animal. Também está nos planos da empresa a produção de animais transgênicos. A inserção de genes de características desejáveis (como a produção de proteínas de interesse terapêutico no leite) também é uma técnica de baixa eficiência. Neste caso, a clonagem multiplicaria indivíduos transgênicos bem-sucedidos. Estudos da Embrapa indicam que a combinação de clonagem com outras técnicas de multiplicação permitirá obter, em um ano, o ganho genético equivalente a 12 anos de seleção tradicional. Próximo Texto: Ambiente: Amazônia absorve gás carbônico, diz estudo Índice |
|